Coleção de Frases e Pensamentos de Diogo Mainardi


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20 frases


Diogo Mainardi
'Como Macunaíma, nascemos pretos e fomos embranquecendo à medida que nos afastávamos de nossa terra de origem. É o que ensina Genes, Povos e Línguas, do geneticista italiano Luigi Luca Cavalli-Sforza. Ele analisou mais exames de DNA do que o Ratinho. E, ao contrário do Ratinho, não usou o resultado dos exames para vender mais xampus contra piolho, e sim para traçar um mapa da evolução humana. Seus estudos demonstram que nossos conceitos de raça são uma empulhação. Não existe preto, branco nem amarelo. Ou dividimos a humanidade em mais de 1.000 etnias e línguas, ou acabamos com a classificação por raças, admitindo que somos todos parentes. Os primeiros homens surgiram na África. Tínhamos a pele preta porque ela servia de proteção contra o sol equatorial. Os cabelos eram encarapinhados para reter o suor e resfriar a cabeça. Quando começamos a nos espalhar pelo mundo, 100.000 anos atrás, nossas características físicas foram se adaptando às novas condições climáticas. Quem se mudou para a Europa ficou com a pele branca para captar melhor os raios ultravioleta e suprir a carência de vitamina D. As narinas se estreitaram para aquecer o ar antes da chegada aos pulmões. Os que migraram para o Oriente ganharam dobras adiposas em volta dos olhos para se proteger dos gélidos ventos siberianos. Debochamos muito de Michael Jackson, mas nossos antepassados sofreram as mesmas transformações que ele. Um sueco é um sudanês subnutrido. Um mongol é um pigmeu com frio.'
Diogo Mainardi
Diogo Mainardi
27 de fevereiro de 2008, Revista Veja
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''No último domingo, testemunhei outro encontro inusitado: Claudia Leitte e Elias Canetti. Fui jantar com meus filhos num restaurante árabe de Copacabana. Meio de transporte: bicicleta. Um filho na cadeirinha dianteira, outro filho na cadeirinha traseira. No caminho de volta para casa, fomos imersos pela gigantesca onda humana que acabara de assistir a um espetáculo da cantora Claudia Leitte, na Praia de Copacabana. Imediatamente, pensei em Elias Canetti. Ele relatou que o evento decisivo de sua vida ocorreu em 15 de julho de 1927, quando foi arrastado por uma horda de arruaceiros que depredou e incendiou o Palácio de Justiça em Viena. Toda a sua obra foi inspirada pelo episódio. Em particular, o romance Auto-da-Fé e o tratado Massa e Poder. Eu senti uma inquietude similar à de Canetti no último domingo, quando fui arrastado pelas centenas de milhares de pessoas que debandaram depois do espetáculo de Claudia Leitte, com meus filhos na bicicleta e a barriga cheia de homus e kebab.

Onda humana. Eu nunca uso figuras de linguagem. Nesse caso, ela cabe: Canetti identificou onze símbolos que representam as massas. Um desses símbolos é o mar. A massa de espectadores de Claudia Leitte era representada por um símbolo que não chegou a ser contemplado por Canetti: o Smirnoff Ice. Para Canetti, o populacho revanchista que incendiou o Palácio de Justiça em Viena serviu como um prenúncio do nazismo. Aquela gente estava pronta para seguir o primeiro demagogo sanguinário que aparecesse. Para mim, a massa bestializada que foi assistir ao espetáculo de Claudia Leitte em Copacabana, formada por uma gente embriagada, barulhenta, porca, feia e de pernas curtas, provou apenas que eu preciso sair menos de casa. O que demonstra de uma vez por todas – como se isso fosse necessário – que eu jamais serei um Elias Canetti.''
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http://origin.veja.abril.com.br/idade/exclusivo/270208/mainardi.shtml

Diogo Mainardi
Diogo Mainardi
Revista Veja - Edição 2165 / 19 de maio de 2010 - Parte I
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''O Brasil é uma espécie de Macaé do mundo. Isso é uma sorte. Se o Brasil fosse a Inglaterra, Lula já estaria consagrado como o nosso Chamberlain. Sempre que alguém quer guerrear, surge algum pateta tentando ser intermediário da paz. Em 1938, o primeiro-ministro da Inglaterra, Chamberlain, viajou para a Alemanha para negociar olho no olho com Hitler. Depois de alguns encontros, eles assinaram um tratado de paz, pelo qual Hitler se comprometia a ocupar apenas uma parte do território da Checoslováquia. Chamberlain voltou à Inglaterra comemorando a paz. Seis meses mais tarde, Hitler atropelou Chamberlain e ocupou o resto da Checoslováquia. Em seguida, ocupou a Europa inteira.

Se Lula é o Chamberlain de Macaé, Mahmoud Ahmadinejad só pode ser o Hitler de Macaé. Como Hitler, ele mata seus opositores. Como Hitler, ele persegue as minorias. Como Hitler, ele tem um plano para eliminar todos os judeus. Só lhe falta o poder de fogo, porque um Macaé, felizmente, é sempre um Macaé. O papel de Lula é esse: dar-lhe algum tempo para que ele possa obter uma arma nuclear. Na semana passada, um articulista do Washington Post chamou Lula de "idiota útil" de Mahmoud Ahmadinejad. O articulista está certo. Mas há outros "idiotas úteis", além de Lula. O G15, reunido neste domingo no baile funk iraniano, conta também com a Venezuela, de Hugo Chávez, com o Zimbábue, de Robert Mugabe, e com a Indonésia, de Susilo Bambang Yudhoyono, eleito pela Time, em 2009, uma das 100 personalidades mais influentes do mundo. Time é uma espécie de VEJA de Macaé.''
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Diogo Mainardi
Franz Paul Trannin da Matta Heilborn
Trecho da Entrevista, Dossiê Geral
Geneton Moraes Neto - Você é frequentemente criticado porque teria se transformado de revolucionário em conservador. Você aceita essas críticas ?

Paulo Francis – Passei de criança a adulto. Eu era uma criança que confundia desejo com realidade. Eu tinha certos desejos -que eram fraternais com relação à minha situação privilegiada e à situação desprivilegiada de outras pessoas. Mas descobri, ao ver o mundo aí fora, que a maneira de resolver esses problemas não é a maneira pregada pelos principais grupos populares aqui do Brasil. A grande transformação foi esta. Vi que os países ricos são paises que se abrem para o capital e fazem iniciativa privada. Como é que você vai empregar os brasileiros sem iniciativa privada ? Vai fazer de todo mundo funcionário público ? As repartições públicas já estão falindo ! E com esses milhões que estão aí o que é que você vai fazer ? É preciso abrir desde botequim a fabrica.Isso só com capital privado !

Geneton Moraes Neto - Você confessa hoje que tem simpatias pela social-democracia. O caminho para o Brasil pode ser esse ?

Paulo Francis – Certamente. A social democracia é imperfeita -sem dúvida- mas é a coisa mais justa que há. Porque garante o mínimo necessário a quem não pode lutar pela sobrevivência e, ao mesmo tempo, permite que quem pode se expanda sem ditadura sem nada. Veja os países mais avançados do mundo : sÃo os escandinavos. A própria Alemanha é uma social-democracia,a França … E os Estados Unidos são uma social democracia – desorganizada, mas, se você falar assim nos Estados Unidos, eles acham que você é comunista. O que tem de auxílio às pessoas necessitadas é igual a qualquer social-democracia européia.

Franz Paul Trannin da Matta Heilborn
Diogo Mainardi
26 de junho de 2002, Revista Veja, Parte II
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A bandeira nacional foi projetada por Teixeira Mendes e Miguel Lemos. Eles eram positivistas. Daí o "Ordem e Progresso". Miguel Lemos chegou a fundar a Igreja Positivista do Brasil. Existe até hoje, com sede no Rio de Janeiro. O secretário-geral é Danton Voltaire Pereira de Souza. Seu nome é muito apropriado. O positivismo brasileiro sempre conservou suas raízes francesas, rejeitando a influência dos Estados Unidos. Para a Igreja Positivista do Brasil, Paris é a "cidade sagrada", onde morou o fundador do positivismo, Auguste Comte. O "apartamento sagrado" de Comte, situado à Rua Monsieur Le Prince, 10, 3° andar, é meta de peregrinação dos positivistas brasileiros. Os fiéis da Igreja Positivista do Brasil costumam reunir-se aos domingos, no Templo da Humanidade. Escutam prédicas e máximas positivistas, como "A mulher deve ser posta ao abrigo das necessidades materiais para que se possa dedicar às atividades próprias do lar". Antes disso, hasteiam a bandeira ao som do hino da bandeira e da Marselhesa, o hino francês. Pode parecer contraditório que a igreja fundada pelo idealizador de um dos maiores símbolos nacionais, a bandeira, cultue o hino de um país estrangeiro. Mas o Brasil é assim: todos os nossos movimentos nacionalistas tiveram origem no exterior, tanto na política quanto na cultura. O pior é que essas idéias sempre chegaram meio deturpadas, meio transviadas. Como o positivismo, que em nenhum lugar do mundo foi levado muito a sério, mas que no Brasil virou religião.

É bom desconfiar de quem se diz patriota. Assim como é bom desconfiar de quem se diz democrático. Aliás, desconfie de tudo.

Diogo Mainardi