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Filipe Marinheiro
Coleção de Frases e Pensamentos de
Filipe Marinheiro
54 frases
“
Impôs-se escorregadia
lava da vertigem resvalando
todo meu ser em amenas
folhagens matutinas que seriam
hasteadas p’lo pico
da tua porta púrpura.
Fundi-me
sonora água encurvada.
Somenos
soldar bolsas de feixe
irrompesse tuas ânsias
em formas febris,
eu rodaria as quentíssimas tardes,
voaria num frutado cachecol aquém,
esticaria delicadamente
um cordel de brasas às extremidades
dum espaço sem espaço extraordinário
para bailar felizardo entre filigranas luvas
até à impune lua.
E assaltava
a fortuna cambaleante
dos belos anoiteceres ardidos.
Como tudo e tudo poderia ser perfeito
se me ensinasses com magia,
a complexa
valsa da alegria.
”
―
Filipe Marinheiro
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“
Visto-me na colónia do medo
porque já nada sei ser senão medo desmembrado
com a sensação presa de me aprofundar
num remoinho golpeante
p’los vidros em derramamentos que me tocam
até aluar escarpas em lágrimas mil...
Quando será que vou poder tactear
a infância para descalço brincar?
Tenho tantos medos
quanto medos!...
”
―
Filipe Marinheiro
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“
Piso o creme
polar da estrela
com meus lábios
e encontro o manejo
das novas músicas à chuva
que me guiarão
ao significado
de ser-se maestro
”
―
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“
Foste abatida por flocos de perfume branco porque
te deixaste ir à deriva das rupturas combatidas p’los lábios
de granizo no franzido céu. Não tive outra chance senão
aprender com torpor a fácil arte de estudar a luz de todos os cometas,
subterfúgio do meu vivo crime!
Ó, novíssimo crime!
”
―
Filipe Marinheiro
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“
Escolhi cortar os nervos das fissuras
para penetrar em meus olhos doirados
De uma ponta a outra recortei uma manta de lume
para os marnotos queimarem as grinaldas outrora tua presença
Teu belo corpo desmorona toda uma realidade
e o mármore liquida-se nos liames da alma
O mar fala-me, encarcera-me no volume
dum temperamento caprichoso
O mar esconde a treva que me espalha
Sei que já foste espuma de dálias
também cantaste ocultas linhas pálidas
Foi-me dado teu retrato escrito
tão bonito, tão radioso, tão incondicional, tão primaveril
que não acredito se irás ser minha – mesmo minha!
Estou devotado no salto para todo me destruir
e as mãos picadas p’las escrupulosas pedras
fazem pingar nossas lágrimas tristes
”
―
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“
Adiante o ritmo, depois e depois a dor!
Dor morta!...
Dor que faz de conta!...
Dor que anda morta!...
Dor que vira desnorte brasa de tanto praguejar!...
Dor que entre épocas canta ao bondoso ritmo!...
Ritmo que perdura nas docílimas plantas da nossa dor!
Dor que vive para procriar
o destino do ritmo por escorregar
como derretida cera
na consumada alma!
Adiante o ritmo, depois e depois a dor!
Admite,
já não sabes se é do ritmo ou se é da dor...
”
―
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“
É-me inevitável!
Diariamente sou impelido
a dialogar lúcido com meus próprios medos,
esses medos têm medo de mim e eu deles
os medos têm aflitivamente medo de todos os medos,
dormem fraquejados na tosse de uns e de outros,
de todos...
Tomam-se, lassam-se, escorraçam-se!..
Quando os medos começam a respirar,
ralham-nos,
inflamam-nos,
dissolvem-nos,
impossibilitam-nos,
calcinam-nos...
Em contrafé falam-me num derradeiro
Adeus aos medos...
Adeus à tristeza que esses medos comportam...
Adeus à solidão que desses medos escorregam...
Adeus à obsessão que esses medos baptizam...
Sob a estúpida impotência não compreendo.
Sinto-me alcatrão calcado,
e na última vénia
murmuram-me a estremunhar
que a minha única imaculada saída
é escrever poesia até enlouquecer!
”
―
Filipe Marinheiro
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“
Jamais te deves importar com a tremenda acção, música,
textura, ritmo, cadência, métrica, desenho, estética, género,
química, física, massa, espaço, tempo, contexto, situação,
rima, estrofes, versos entre outros longínquos atributos
perfilados da poesia, isso é muito e muito antes, logo
depois... cá e lá a bater-te em toda a dimensão do ser
fremente aqui e acolá... É cirúrgico futuro por vir, mas já
veio ao pensamento intemporal!
Basta então antecipares-lhe suas partículas invisuais,
depois romperes as entrelinhas das camadas onde com a
mesma indiferença prevês o tal sentido relativo, exacto,
profanando consoante a sinfonia metamorfose da melodia.
É nesse instante momento sobrenatural que vais sentir e
escutá-la adivinhando-lhe a restante beleza porvir. A poesia
nunca mais será a mesma, um desregulamento torrencial
infinito metafísico, sendo-a apenas!
”
―
Filipe Marinheiro
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“
A loucura é tão inexpugnável o quanto lhe depositamos de
delírio e da clareza ante o preconceito renascer insana.
Existem loucuras na introspecção doutras loucuras!
As pessoas imaginam a imprópria loucura doutras loucuras
dentro da loucura movediça, mas a loucura também pensa
das pessoas! Se estiver do seu lado esquerdo adormeço, do
lado direito acordo, de trás desmaio, de frente salto, por
cima ilumina-me, por baixo obscura-me, no seu ventre
musical, sou a sua clave!
É isso a loucura? Uma mera quimérica diferença em tropel?
Então deixem-me lá continuar louco, um louco
inabalavelmente feliz e lúcido. Lá Lá Lá... Hurra Hurra Hurra...
”
―
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“
Balanço-me feito túnica
de cortinas a cordas de violino a estalar,
marco o compasso entre véus a sopros de flauta
e nesses púdicos lugares eternizo-me dançarino.
”
―
Filipe Marinheiro
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“
Após chutar a dita estética frágil
descreio na cega literatura violentíssima
para mim inexistente
– destrutiva, desfigurada, falecida, mas precisa!
Nem tampouco me comovem as contradições
d’arte emaranhada em muitos contornos decalcados
– um recalcamento absurdo, improdutivo, um salto num
vazio absorto…
renego-me profundamente… renego-me, renego-me!
aller à Rimbaud… … …
”
―
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“
Trouxe-te comigo
na lembrança
que tenho sempre
por abrir
”
―
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“
Ainda quebras o cheiro
das plantas apaixonantes
desdobrei-as no martírio
como envenenamento da minha triste escrita
olhei-me sob o deserto silêncio azul-esmalte
à procura, resoluto, da selva espalhada no desprezo
em que meus olhos vergastados navegaram...
”
―
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“
Dá-me os teus pés
dancemos abertos ao meio
no dorso da incrível lua estelar
até nos imaginarmos
ofegantes projécteis a derreter
de lábios entupidos
doidos e doidos de preguiçoso amor.
”
―
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“
Toco na harmonia do suspenso caminho
sei-me lamento pasmo rolado
em erupção paralisante.
Um passageiro muito só
que cai, desequilibra-se
no esquecimento indiferente.
É terrível não dar mesmo
encontro de mim.
Perco-me num denso escuro sombrio
onde as visões
que sublinho fatigado,
picam a esquecível memória
donde parto.
”
―
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“
No pranto uma gota me faça
assombrado poeta para noutra
me tornar selvagem eremita
sorrindo proscrito.
”
―
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“
Houve uma ensinada tarde
em que a luz se esticava dentro de mim
agitava-se cruelmente longamente
e eu expandia sem parar
quando subi demasiado humano
por entre avenidas de escadas povoadas
vizualizava esquecidos sábios
quem seriam? quem serão? existirão?
depois da meditação sentado na última abóbada do planeta
descobri a diferença entre a palavra origem e proveniência
essas asas d’ouros em tudo bizarras
acorreram-me uma a uma amando o vento
retina de minha oriunda consciência
outros arrastaram o espaço do meu concreto corpo
e a profundeza do mar a avistar as feridas palavras
eis que me amarram de ponta a ponta
uma infinita espuma movida por rostos
meu coração recluso do impróprio choro doce
contempla o tempo desafinado por raros
perfumes deslizantes
dessas hirtas pétalas ligeiramente oblíquas
e noctívago danço a sinfonia em que morro loucamente
”
―
Filipe Marinheiro
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“
Por detrás
dos meus abrigos olhos
vejo o patético manicómio
desta invisível máscara
que terá de assassinar
mais uma embaciada noite
crescente cessar!...
”
―
Filipe Marinheiro
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“
A minha cabeça pensa em todas as cabeças é sombriamente
todas as outras cabeças, entranham-se, entram umas nas
outras, na minha! – inquieto-me, estremeço, esmago-me,
imortalizo-me tornando vidente tudo o que mexe...
”
―
Filipe Marinheiro
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“
Uma vez
atei lençóis ferrugentos
aos membros lisos
da claridade daquele céu tatuado,
como deslizava lasso ao longo
da corrente sanguínea
de um qualquer envenenamento.
Após sobrepostas vibrações
retalharem a sombra da minha fechadura.
São terríveis os afectos.
”
―
Filipe Marinheiro
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“
Ontem estava um sol
de partir o cérebro,
desassombradamente
tive tempo de brincar ardido
numa casca de noz
d’um tal decotado vento...
rompi-me encantado, descalço
no requinte desse ermo vento...
escrevi vento e ele fechou-me
os miraculosos olhos
fundando-me morníssimo delírio.
”
―
Filipe Marinheiro
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“
Olho a linha
que espia a retina do mar
espero, espero, espero
e de tanto esperar em vão
um dia tarde demais
descobri que na escrituras
dos rebentos das ondas
estava escrito
que à nascença tinha sido
condenado pois
alma alguma me irá amar
”
―
Filipe Marinheiro
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“
Sei como te fazes
procurar pelo ar atmosférico
numa atribulação
formando delicadas
palavras clandestinas.
Basta fazeres-te naqueles dias
sem regaço à chuva
para simpaticamente assumir
a melancolia desfeita
como a tocar as alturas
sobre tremendas paisagens
a incidirem gentis, calmas, isoladas
e algumas letras
sem alívio sabotagem.
Ou pouco ninguém
diabolicamente se cantará
no instante da matéria a rodear
o peso bárbaro das mãos em espasmos.
Pedem pois vidas maravilhosas,
fazendo renascer o sopro casto
virado para dentro do pulso cantante
e bailas perante os teus dedos espantados
despenhando-os na pureza da carne a furar
a esplêndida noite dita
durante a curva do sangue intenso,
como se procurasse
a estabilidade daquilo que encontrei
porque tu, numa voz, o perdeste.
Senão,
encontras a luz esmigalhada
contra a pele
a estrangulá-la na fímbria
à cabeça crepuscular adentro.
Virarias um rolo de papel sôfrego
que não se percebe
enquanto atravessa naquela comoção
da próxima curva abstracta, céptica, iminente,
ensinando à parte,
quanta estrada chumbo
cheira os ganchos
quando roçam a ventania curiosa
entre corpos fortes.
Nem mesmo com a parada
de desejadas chaves frágeis,
em turbilhão,
por se fecharem,
inventas toda essa estrada de vitalidade
a manquejar pormenores sábios
mas realmente o farás
como outras palavras esgravatariam
o céu inteiro lá pelos lados empurrando
certas maravilhas que gráceis brilham.
Deitas-te entre joelhos
na dança de meus lábios deslizantes.
Como num edifício de bruma redonda,
ardes toda a boca pousada
onde o beijo me procura
e te sabe.
”
―
Filipe Marinheiro
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“
Desviassem filamentos de pedras pomes ao lume
que mergulha o meu corpo violino
na devassidão das noites picantes conseguiria modelá-la
e antes disto ouvi-la transpirar estanque potência
entretanto faço parar o giro desse sol
em espiral indolente
para encher o tempo com sabor corajoso
solto-me do soluço maníaco
de um mar afrodisíaco dedal
tanto se mente a si mesmo como devora
o chilrear do aroma azul-celeste divertido
dessa alma apêndice a apêndice embalada
desculpem-me
se cravo as estrelas estrondosas à desprendida lua
sonâmbula
e a minha maciça boca tinge-se da alcova
entre o aconchegante céu de portas amordaçadas
onde potente tudo perdoo
”
―
Filipe Marinheiro
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“
Fecho os olhos
abro-me nos teus como uma balada impune no seu sangue
oscilante
entretido percorro-te, estremeço-me nas veias singulares
depois com a ponta da língua
afável caligrafia reponho as cordas giratórias
e andas no meu imenso chão
um chão embalado p'los nossos sorrisos de cetim
só teu, só meu a transformar-se
porém nunca a concluir ou terminar salvo esse romance
nada súbito a apertarem violetas durante
jactos perfumados
decerto uma bondade eterna
eis donde chegam os meus afectos
e nas artérias de seda cristal
crias novas meigas cores novos ligeiros ares
novos amantes tons
novos endurecidos ruídos
novo auroreal amor para eu continuar a ver
a ver-te debruçada sobre mar transparente
com veludo de orvalho entre os poros
a ver-nos encalhados continuando a moldar
brancos banhos
como numa nossa gargalhada
a dormir no cume de videntes astros adentro
só dessa maneira
estaremos destinados a tais grandes coisas
”
―
Filipe Marinheiro
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3
Filipe Marinheiro
Membro desde:
31/01/2014
Frase do Dia
“
Nunca vire as costas a um amigo.
”
—
Alfred Hitchcock
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