Frase de Filipe Marinheiro

Frase adicionada por FilipeMarinheiro em 31/01/2014


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Escolhi cortar os nervos das fissuras
para penetrar em meus olhos doirados

De uma ponta a outra recortei uma manta de lume
para os marnotos queimarem as grinaldas outrora tua presença

Teu belo corpo desmorona toda uma realidade
e o mármore liquida-se nos liames da alma

O mar fala-me, encarcera-me no volume
dum temperamento caprichoso
O mar esconde a treva que me espalha

Sei que já foste espuma de dálias
também cantaste ocultas linhas pálidas

Foi-me dado teu retrato escrito
tão bonito, tão radioso, tão incondicional, tão primaveril
que não acredito se irás ser minha – mesmo minha!

Estou devotado no salto para todo me destruir
e as mãos picadas p’las escrupulosas pedras
fazem pingar nossas lágrimas tristes (Filipe Marinheiro)
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Filipe Marinheiro
Devorei pulsos em chamas.
Amplamente o rosto envolto por coágulos de sangue luzidio
a trespassarem as veias estanques como a enrolar
as cores existentes
por dentro.
Certo é percorrerem
todo esse ar
que engole o corpo celeste mergulhado
na textura do nosso corpo temporal.
Fico com as mãos
cheias de ossos trancados.
Levanto
a cauda de um espelho
e alongo as vísceras astronómicas,
com bastante força química,
a dilatar numa circulação sanguínea
até a leveza
da garganta se alagar
na sombra líquida
das artérias
contra o alto esquecimento das coisas profundas,
contra os tendões severos a racharem a boca desvairada.
Relembro quando adormecia
sobre todas as
coisas vivas ou mortas
por fora.
Submetia os lábios
a girarem a voz louca
ao lume pedestre
e ardia pelo estremecimento terrível
dos nervos cabeça adentro,
donde múltiplas
estrelas demoníacas
a baterem-se em mim longamente
param, a pouco e pouco, a potência que nunca me sorriu
e vago ou inocente deixo de caber
nos sítios superficiais
à minha volta.
Releio todas as cumplicidades translúcidas
a moverem toda a pele num feixe de pérolas
das salgadas mãos,
aos braços a escorrerem aquele alimento
metidos nas águas sentadas
no túmulo dessas estrelas tubulares.
A destreza deste poema extingue-se quando as unhas
tocarem na carne abaixo, rompendo,
com sinceridade,
a desvastação simbólica
da escrita furibunda
ou silêncio furibundo
a pesar com delicada melancolia.
Ouço o rasgão
do corpo a sangrar
com os tecidos dos versos
a palpitarem porque se nomeiam
e se escrevem dentro
da pulsação ininteligível.
Por cima,
devoro os pulsos em chamas.