Frase de Filipe Marinheiro
| “ Sei como te fazes procurar pelo ar atmosférico numa atribulação formando delicadas palavras clandestinas. Basta fazeres-te naqueles dias sem regaço à chuva para simpaticamente assumir a melancolia desfeita como a tocar as alturas sobre tremendas paisagens a incidirem gentis, calmas, isoladas e algumas letras sem alívio sabotagem. Ou pouco ninguém diabolicamente se cantará no instante da matéria a rodear o peso bárbaro das mãos em espasmos. Pedem pois vidas maravilhosas, fazendo renascer o sopro casto virado para dentro do pulso cantante e bailas perante os teus dedos espantados despenhando-os na pureza da carne a furar a esplêndida noite dita durante a curva do sangue intenso, como se procurasse a estabilidade daquilo que encontrei porque tu, numa voz, o perdeste. Senão, encontras a luz esmigalhada contra a pele a estrangulá-la na fímbria à cabeça crepuscular adentro. Virarias um rolo de papel sôfrego que não se percebe enquanto atravessa naquela comoção da próxima curva abstracta, céptica, iminente, ensinando à parte, quanta estrada chumbo cheira os ganchos quando roçam a ventania curiosa entre corpos fortes. Nem mesmo com a parada de desejadas chaves frágeis, em turbilhão, por se fecharem, inventas toda essa estrada de vitalidade a manquejar pormenores sábios mas realmente o farás como outras palavras esgravatariam o céu inteiro lá pelos lados empurrando certas maravilhas que gráceis brilham. Deitas-te entre joelhos na dança de meus lábios deslizantes. Como num edifício de bruma redonda, ardes toda a boca pousada onde o beijo me procura e te sabe.” |
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Mais frases de Filipe Marinheiro
| “ Devorei pulsos em chamas. Amplamente o rosto envolto por coágulos de sangue luzidio a trespassarem as veias estanques como a enrolar as cores existentes por dentro. Certo é percorrerem todo esse ar que engole o corpo celeste mergulhado na textura do nosso corpo temporal. Fico com as mãos cheias de ossos trancados. Levanto a cauda de um espelho e alongo as vísceras astronómicas, com bastante força química, a dilatar numa circulação sanguínea até a leveza da garganta se alagar na sombra líquida das artérias contra o alto esquecimento das coisas profundas, contra os tendões severos a racharem a boca desvairada. Relembro quando adormecia sobre todas as coisas vivas ou mortas por fora. Submetia os lábios a girarem a voz louca ao lume pedestre e ardia pelo estremecimento terrível dos nervos cabeça adentro, donde múltiplas estrelas demoníacas a baterem-se em mim longamente param, a pouco e pouco, a potência que nunca me sorriu e vago ou inocente deixo de caber nos sítios superficiais à minha volta. Releio todas as cumplicidades translúcidas a moverem toda a pele num feixe de pérolas das salgadas mãos, aos braços a escorrerem aquele alimento metidos nas águas sentadas no túmulo dessas estrelas tubulares. A destreza deste poema extingue-se quando as unhas tocarem na carne abaixo, rompendo, com sinceridade, a desvastação simbólica da escrita furibunda ou silêncio furibundo a pesar com delicada melancolia. Ouço o rasgão do corpo a sangrar com os tecidos dos versos a palpitarem porque se nomeiam e se escrevem dentro da pulsação ininteligível. Por cima, devoro os pulsos em chamas.” |
Filipe Marinheiro