Frase de Filipe Marinheiro
| “ É-me inevitável! Diariamente sou impelido a dialogar lúcido com meus próprios medos, esses medos têm medo de mim e eu deles os medos têm aflitivamente medo de todos os medos, dormem fraquejados na tosse de uns e de outros, de todos... Tomam-se, lassam-se, escorraçam-se!.. Quando os medos começam a respirar, ralham-nos, inflamam-nos, dissolvem-nos, impossibilitam-nos, calcinam-nos... Em contrafé falam-me num derradeiro Adeus aos medos... Adeus à tristeza que esses medos comportam... Adeus à solidão que desses medos escorregam... Adeus à obsessão que esses medos baptizam... Sob a estúpida impotência não compreendo. Sinto-me alcatrão calcado, e na última vénia murmuram-me a estremunhar que a minha única imaculada saída é escrever poesia até enlouquecer!” |
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Mais frases de Filipe Marinheiro
| “ Devorei pulsos em chamas. Amplamente o rosto envolto por coágulos de sangue luzidio a trespassarem as veias estanques como a enrolar as cores existentes por dentro. Certo é percorrerem todo esse ar que engole o corpo celeste mergulhado na textura do nosso corpo temporal. Fico com as mãos cheias de ossos trancados. Levanto a cauda de um espelho e alongo as vísceras astronómicas, com bastante força química, a dilatar numa circulação sanguínea até a leveza da garganta se alagar na sombra líquida das artérias contra o alto esquecimento das coisas profundas, contra os tendões severos a racharem a boca desvairada. Relembro quando adormecia sobre todas as coisas vivas ou mortas por fora. Submetia os lábios a girarem a voz louca ao lume pedestre e ardia pelo estremecimento terrível dos nervos cabeça adentro, donde múltiplas estrelas demoníacas a baterem-se em mim longamente param, a pouco e pouco, a potência que nunca me sorriu e vago ou inocente deixo de caber nos sítios superficiais à minha volta. Releio todas as cumplicidades translúcidas a moverem toda a pele num feixe de pérolas das salgadas mãos, aos braços a escorrerem aquele alimento metidos nas águas sentadas no túmulo dessas estrelas tubulares. A destreza deste poema extingue-se quando as unhas tocarem na carne abaixo, rompendo, com sinceridade, a desvastação simbólica da escrita furibunda ou silêncio furibundo a pesar com delicada melancolia. Ouço o rasgão do corpo a sangrar com os tecidos dos versos a palpitarem porque se nomeiam e se escrevem dentro da pulsação ininteligível. Por cima, devoro os pulsos em chamas.” |
Filipe Marinheiro