Coleção de Frases e Pensamentos de Mário Pereira Gomes

4.047 frases

“Achar que Hitler era um grande orador é tomar como verdade a propaganda nazista. Em eleições livres seu partido nunca ultrapassou os 40%; nas eleições de fachada nunca obtiveram mais de 90%. Os discursos dele, como aqueles feitos para o filme-propaganda O triunfo da vontade, foram ensaiados exaustivas vezes e sempre para uma plateia de apoiadores. Leia o Mein Kampf e o que você verá é um livro muito mau escrito e obscuro. Quando os nazistas chegaram ao poder o livro do ex-cabo se tornou um best-seller. Não tanto porque de uma hora para outra as pessoas passaram a gostar do livro, mas por ser um sinal de conformidade tê-lo.”

― Mário Pereira Gomes

“O problema de consumir informações apenas dos telejornais e grandes portais de notícia é que você será uma criança sob o efeito da flauta de Hamelin. Por exemplo, ontem ocorreu um atentado terrorista no aeroporto de Cabul. Jornalistas deram ares de ineditismo ao ataque e estabeleceram uma relação causal entre a retirada estadunidense e o atentado. Errado. Primeiro, que o DAESH-K não surgiu ontem e não é a primeira vez que comete atentados terroristas no Afeganistão. Segundo, que é esperado que os afegãos matem uns aos outros agora que a ocupação acabou. É o comportamento próprio de uma sociedade tribal. Por fim, o atentado só foi noticiado porque a grande mídia ficou triste com o término da ocupação que consumiu décadas de capital simbólico.”

― Mário Pereira Gomes

“O problema do ser-dever ser foi resolvido no século XVIII com a obra Tratado da Natureza Humana de David Hume. No entanto, ainda hoje vejo este problema quando se trata do comportamento dos animais. Há pessoas que não gostam quando se fala de coerção sexual, infanticídio e xenofobia nos primatas, pois isto de alguma forma isto justificaria as mazelas sociais. Não é assim. Saber, por exemplo, as raízes biológicas da violência contra a mulher e do racismo nos tornará capazes de traçar estratégias melhores para combater tais comportamentos do aquelas que atualmente são implementadas pelo Estado e que nada resolvem.”

― Mário Pereira Gomes

“Se o Ocidente é um lugar melhor para mulheres e minorias religiosas do que o mundo islâmico é justamente pela religião não direcionar o funcionamento do Estado.”

― Mário Pereira Gomes

“Na Itália da década de 1920, o intelectual nacionalista Enrico Corradini cunhou o termo nação proletária que foi adotado mais tarde por Mussolini. O que está por trás deste termo é que o movimento fascista elevou a luta de classes ao nível das relações internacionais; ao mesmo tempo que a negou ao nível nacional. Segundo os governos do Eixo suas nações não eram compostas de classes sociais com interesses díspares, mas de comunidades racialmente homogêneas e guiadas apenas pelo próprio bem-estar. Já no plano internacional as nações estavam divididas entre opressoras (EUA, França e Inglaterra) e oprimidas (Alemanha, Itália e Japão). Tal como no marxismo, a História terminaria com a vitória das nações proletárias.”

― Mário Pereira Gomes

“Conhecemos a primeira capital do Antigo Egito como Mênfis; um nome grego que se originou do termo egípcio men-nefer proveniente da cidade Men-nefer-Pepi (Que Pepi Resista e seja Perfeito). O nome original da primeira capital é Inbu-hedj que significa “a de muros brancos”. Provavelmente a cidade fundada por Pepi se fundiu com Inbu-hedj gerando a ideia de Mênfis como a capital do Antigo Egito.”

― Mário Pereira Gomes

“Nos estertores do Antigo Império vê-se um aumento no poder dos governantes locais, enfraquecimento das distinções que separavam nobres da família real, ineficiência estatal, limitação do poder dos faraós e adoção por estes de nomes de deuses que não o daqueles relacionados ao Sol (Rá e Hórus).”

― Mário Pereira Gomes

“No Antigo Egito a anemia atingia todos os estratos da sociedade, mas os pobres tinham mais problemas de coluna e das articulações em decorrência do trabalho pesado no campo e na cidade. Entre os cadáveres de soldados nota-se um maior número de ossos fraturados, enquanto que nas mulheres a região mais lesionada é a face, principalmente o nariz, indicando violência doméstica.”

― Mário Pereira Gomes

“Entre as décadas de 1960 e 1970, a América Latina passou por experiências autoritárias. Em países como Chile, Argentina e Uruguai a tomada de poder pelos militares resultou numa diminuição da inflação, do tamanho do Estado e dos gastos em serviços públicos. Já no Brasil a ditadura militar aumentou consideravelmente o número de estatais, o valor dos salários e das pensões dos funcionários públicos, a dívida externa e a inflação. Isto se deve ao que ocorreu nas décadas que precederam os golpes de Estado. Nos três países, o Estado pré-golpe esteve sob controle de populistas de esquerda que aumentaram bastante a intervenção do governo na economia para aumentar a base de apoio e limitar o poder das elites econômicas. Quando estas retomaram o Estado com a ajuda dos militares trataram de liberalizar a economia e criar mecanismos por meio dos quais o Estado não mais atentaria contra seus interesses. No Brasil, o golpe se deu com o mesmo objetivo: impedir que Jango realizasse reformas vistas pela elite econômica como deletéria para seus interesses. Como nas décadas que precederam o golpe as elites não se viram tendo de lutar contra governantes de esquerda e um forte movimento operário, o Estado não foi percebido como um inimigo. Pelo contrário, o Estado foi o meio pelo qual os militares e empresários implementaram uma política econômica que resultou no Milagre Brasileiro do qual somente uma minoria pôde usufruir.”

― Mário Pereira Gomes

“O erotismo no Tanakh se apresenta de 3 formas: um erotismo espiritual entre a Sabedoria e o estudioso, aquele entre marido e mulher e o erotismo fora destes dois conjuntos que abarca a prostituição e o adultério.”

― Mário Pereira Gomes

“As novelas mexicanas seguem o mesmo script baseado na religião católica: duas pessoas se apaixonam, mas não podem viver este amor por conta das mentiras. Estas são o motor da novela, pois quando elas acabam a novela também termina. O reino da verdade é estabelecido e todas as pessoas boas vivem felizes para sempre, enquanto que os mentirosos contumazes são devidamente punidos.”

― Mário Pereira Gomes

“A religião judaica sempre foi uma religião do exílio: ela surgiu no período persa e helenístico. Moisés morreu sem ter entrado em Canaã não só por ter batido numa pedra, mas também como um lembrete de que tudo que um judeu precisa para adorar a Deus é obedecer os 613 mandamentos presentes na Torá. Templo, terra e uma monarquia teocrática são desnecessários posto que o judeu traz consigo a palavra de Deus.”

― Mário Pereira Gomes

“O pedido de Bolsonaro para abertura de processo contra ministros do STF não passa de bazófia para alegrar os bolsonaristas. O presidente e sua família encontram-se nas mãos do STF, motivo pelo qual Eduardo Bolsonaro foi contra a abertura da CPI Lava Toga, e é mais fácil ser aberto um pedido de impeachment contra Bolsonaro do que contra os ministros do STF.”

― Mário Pereira Gomes

“Por meio de topônimos da Antiga Israel percebe-se que Javé não era o único deus adorado pelos hebreus. Vejamos alguns exemplos abaixo nos quais o nome do deus será seguido pelo topônimo e a passagem na Bíblia em que se pode encontrar tal referência.

Anate: Deusa semita dá nome a cidade de Anatote em que Jeremias nasceu (Jer. 1:1–2).

Baal: Baal-Perazim é o lugar em que Davi derrotou os filisteus (2 Samuel 5:20).

Dagon: Bete-Dagom é uma cidade na tribo de Judá (Josué 15:41).

El: Betel - um dos maiores centros religiosos da Antiga Israel e referenciado em várias passagens da Bíblia.

Yarikh: deus da lua cultuado em Yariḥu/Jericó que é conquistada por Josué no capítulo 6 do livro homônimo.

Šamaš: Bete-Semes - um local de culto ao deus sol que serviu como lugar de descanso para a Arca da Aliança (1 Samuel 6).”

― Mário Pereira Gomes

“Um problema com o qual me deparei na graduação é que para certos docentes e discentes somente as ações de potências do Ocidente são imperialistas. As da China e URSS não. É o que ocorre quando se é um militante e não um pesquisador: você adapta a realidade a sua cama ideológica de Procusto.”

― Mário Pereira Gomes

“Com uma população com média de idade de 18 anos e uma taxa de fertilidade de 4,3 filhos por mulher, não surpreende o Afeganistão continuar tendo conflitos sejam estes contra si mesmos ou contra uma potência global. Por meio da guerra, homens novos podem ascender na hierarquia da sociedade afegã possibilitando acesso a recursos como dinheiro, óvulos e armas. Daí o controle deles sobre a sexualidade das mulheres e restrições sobre o ir e vir delas, a proibição de estudarem e a imposição da burca que cobre o corpo inteiro. O Afeganistão precisa envelhecer, mas para isto primeiro necessita de uma melhoria significativa dos padrões de vida.”

― Mário Pereira Gomes

“Nas crises do capitalismo, algo recorrente, às vezes ocorre um desacoplamento entre nação e capital. Em momentos como este, nos quais o que é bom para a General Motors pode não ser para os EUA, a ordem liberal corre o risco de ser substituída por uma ordem autoritária capaz de estabilizar o binômio nação-capital. Daí o fato de que tanto o imperialismo europeu quanto o nazi-fascismo foram precedidos por crises econômicas. Vale a pena ter em mente que o III Reich propugnou o conceito de Volksgemeinschaft (comunidade do povo) que objetivava a substituição da sociedade de classes por uma baseada na pureza racial. Isto mais o corporativismo servia para submeter os interesses capitalistas aos da nação alemã.”

― Mário Pereira Gomes

“As duas principais redes de fortificações utilizadas na Segunda Guerra Mundial eram a Linha Maginot e a Muralha do Atlântico. Falharam em defender o território francês por não ter-se armado uma cilada em seu ponto mais fraco; obviamente o ponto que foi escolhido para ser atacado pela potência invasora.”

― Mário Pereira Gomes

“Fracasso é estrutural aos regimes que adotam o planejamento central estrito, e não resultado de um embargo econômico feito por um único país mesmo este sendo os EUA. E a China? A China só escapou por ter feito um self-service de aspectos da ortodoxia econômica.”

― Mário Pereira Gomes

“A defesa da ditadura cubana pela esquerda brasileira serve para lembrar-vos de que ela nunca esteve comprometida com o regime democrático.”

― Mário Pereira Gomes

“Comandantes das forças armadas brasileiras lançam uma nota contra a CPI da Covid, o general Ramos diz para "não esticarem a corda" e Bolsonaro fala o de sempre. Em reação, na internet e nos grandes veículos de comunicação, análises são feitas sobre os militares. Bolsonaro tentará um golpe de estado se perder a eleição do ano que vem? Se sim, será apoiado pelos comandantes das forças armadas ou não? Militares de baixa patente se sublevarão em nome do bolsonarismo? Especulações que são pura perda de tempo. Os militares não darão golpe de estado por um motivo bem simples: eles são o governo. Chegaram ao Executivo junto com Temer, em 2016, na figura do general Sérgio Etchegoyen no novo GSI e do general Luna e Silva no Ministério da Defesa. De lá para cá não só não saíram como aumentaram em número e hoje são mais de 6 mil. O partido militar chegou ao poder e nem vimos.”

― Mário Pereira Gomes

“Para os súditos que viviam sob o Antigo Regime o problema não era tanto a quantidade de impostos que tinham de pagar, mas sim o abuso de tais cobranças, o aumento injustificado, a a elevação das taxas em tempos de paz e o uso do dinheiro para alimentar o luxo da aristocracia ao invés de cuidar da coisa pública.”

― Mário Pereira Gomes

“Investigações conduzidas durante décadas em sítios arqueológicos no vale do Indo não encontraram palácios, templos e monumentos de engrandecimento pessoal cuja estrutura fosse muito diferente daquela dos outros edifícios urbanos de cidades como Mohenjo-Daro e Harappa. Além disso, não se encontrou tumbas coletivas nas quais um membro da elite está rodeado de seus servos tal como se vê em outras sociedades complexas da época. Recursos foram gastos não para engrandecimento de uma pequena elite, mas para o bem comum como se nota pelo bom planejamento urbano das cidades e a existência de um sistema de água e esgoto. Com base nas evidências arqueológicas e no que está ausente pode-se concluir que tal civilização era mais igualitária do que da Suméria e Egito. Também mostra que ser governada por um rei-deus não era uma condição sine qua non para uma sociedade ser ou não complexa.”

― Mário Pereira Gomes

“Um efeito colateral do absolutismo francês era a péssima qualidade dos ministros que cuidavam dos assuntos reinóis. Isto porque o monarca tinha um grande poder advindo do mero fato de ser o filho mais velho do governante anterior. Algo desprovido de qualquer mérito. Isto impelia o rei à buscar glórias, principalmente por meio da guerra, e rodear-se de incompetentes para propositalmente tornar o Estado francês ineficiente. Assim, aturdidos pela incompetência dos funcionários reais as pessoas se viam tendo de constantemente recorrer diretamente ao rei. O caso de Nicolas Fouquet é simbólico do complexo de inferioridade que assombrava os reis franceses de Luís XIII à Luís XVI.”

― Mário Pereira Gomes

“No Evangelho de Lucas, Adão é chamado de filho de Deus. Uma afirmação que dá a Jesus uma dupla filiação divina: por parte do próprio Deus cujo espírito engravida Maria e por parte do pai adotivo José que é descendente de Adão e, portanto, descendente de Deus. Tal genealogia encontra paralelo na do primeiro imperador romano que alegava ser filho direto de Apolo e indireto de Afrodite por ter sido adotado por Júlio César. O paralelo entre Jesus e Augusto não termina aí. Os dois receberam o epíteto de filho de Deus e eram considerados como aqueles que cumpririam a profecia de criar um reino que não teria fim. Augusto morreu assim como a dinastia júlio-claudiana por ele fundada, enquanto sobre Jesus afirma-se que ressuscitou e ascendeu ao Céu do qual voltará no fim dos tempos para governar a humanidade para sempre. Ao criar um paralelo entre as genealogias de Augusto e Jesus, o(s) autor(es) do Evangelho de Lucas transmite a ideia de que Jesus é maior do que os imperadores romanos.”

― Mário Pereira Gomes

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Mário Pereira Gomes

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