Frase de Gabriel De Arruda “
V. A Tentação das Certezas No vigésimo primeiro dia do retiro, quando o sol inclemente havia reduzido todas as certezas a pó e todas as dúvidas a cinzas, o Pragmoteu foi visitado por dois demônios gêmeos. O primeiro, vestindo a ossatura da razão seca, declarou: — Abandona essa miragem. Deus é o reflexo do teu próprio rosto no fundo vazio do poço. O segundo, com as mãos brilhantes do óleo que os sacerdotes usam para consagrar ídolos, insistiu: — Confia em mim como a bússola confia no polo - apontarei para ti o norte imutável da verdade eterna. Ambos falavam com autoridade, mas sem humildade. Ambos ofereciam o consolo das extremidades: um havia esvaziado o céu para não precisar se curvar, o outro erguera escadas para tocar Deus sem precisar se elevar. O Pragmoteu permaneceu sentado entre eles, desenhando na areia. Quando partiram, escrevera apenas: “Senhor, eu creio. Ajuda minha incredulidade.” E compreendeu, enfim: que crer não é ter certeza — é manter-se fiel mesmo sem ela. A verdadeira fé não exige segurança; é uma fidelidade que se sustenta no mistério e na aceitação da incerteza como parte essencial do caminho. ”
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Gabriel De Arruda