Frase de Gabriel De Arruda
 | “ V. A Tentação das Certezas No vigésimo primeiro dia do retiro, quando o sol inclemente havia reduzido todas as certezas a pó e todas as dúvidas a cinzas, o Pragmoteu foi visitado por dois demônios gêmeos. O primeiro, vestindo a ossatura da razão seca, declarou: — Abandona essa miragem. Deus é o reflexo do teu próprio rosto no fundo vazio do poço. O segundo, com as mãos brilhantes do óleo que os sacerdotes usam para consagrar ídolos, insistiu: — Confia em mim como a bússola confia no polo - apontarei para ti o norte imutável da verdade eterna. Ambos falavam com autoridade, mas sem humildade. Ambos ofereciam o consolo das extremidades: um havia esvaziado o céu para não precisar se curvar, o outro erguera escadas para tocar Deus sem precisar se elevar. O Pragmoteu permaneceu sentado entre eles, desenhando na areia. Quando partiram, escrevera apenas: “Senhor, eu creio. Ajuda minha incredulidade.” E compreendeu, enfim: que crer não é ter certeza — é manter-se fiel mesmo sem ela. A verdadeira fé não exige segurança; é uma fidelidade que se sustenta no mistério e na aceitação da incerteza como parte essencial do caminho.” |
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 | “ X. Ontologia Pragmoteísta – O Ser como Mistério em Relação 1. O ser não é objeto, mas mistério compartilhado O Pragmoteísmo rejeita a visão do real como simples dado objetivo. O ser é mistério, não no sentido do obscuro ou irracional, mas do que ultrapassa a posse e o controle. O ser não se esgota na análise, mas se revela por relação e presença. 2. Deus como fundamento do ser e não como ente entre entes Inspirado por Tomás de Aquino, o Pragmoteísmo afirma que Deus não é um ente entre outros, mas o ipsum esse subsistens, o Ser mesmo em sua plenitude. Isso preserva sua transcendência sem excluir a analogia: Deus é acessível na medida em que o mundo porta sinais e reflexos de sua fonte. 3. O ser humano como ser-em-abertura O humano, na ontologia pragmoteísta, é um ser-em-abertura: voltado ao outro, ao cosmos, ao mistério. Ele é um ser-de-fé — sua própria estrutura existencial aponta para além de si. Existe nele uma inquietação original, uma centelha de busca, uma disposição a ser tocado pelo sentido. 4. Ontologia como ética implícita Conceber o ser como dom recebido, e não como posse, exige uma resposta ética: cuidado, reverência, compaixão. O comportamento do Pragmoteu no mundo expressa sua ontologia: relação, escuta e resposta. Sua vida é um gesto contínuo de abertura ao mistério que o chama.” |

Gabriel De Arruda