Frase de José Alexandre “
Foi a nossa primeira vez. Eu estava triste depois de tudo e sentei-me perto da janela enquanto chovia. Enquanto isso uma rádio situada por cima de uma banca antiga tocava: "Don”t you remember Don”t you remember The reason you loved me before ?" Só que, depois de algum tempo, as razões que te levam a amar uma pessoa não resistem ao imenso turbilhão que ocorre quando ficamos com elas. E talvez em algum lugar do passado se tenha escondido um momento tão bom, capaz de lutar contra essas águas torrenciais. Brenda trouxe pra mim um chávena com alguma bebida escura que se parecia com café. É isso que eu admiro nela. Ela sempre volta depois do tiroteio, ela sempre volta depois que todos... deixa pra lá. Como eu dizia, foi nossa primeira e grande discussão. Eu levantei a minha voz, ela atirou coisas à parede. Eu disse que ela não valia nada e ela disse que quem não valia era eu. Ficamos envolvidos nalguma espécie de prisão temporal durante os momentos que se seguiram. Foi como se, por mais que falássemos, ninguém ouvisse ninguém. Fiquei com a sensação de já ter estado morto... e ela disse coisas, cada vez mais. Então, atordoado por aquele monte de palavras ditas num idioma tão feminino que nunca conseguirei entender, caminhei perto da janela. Às vezes disparamos tanto que só percebemos que acertamos em nós mesmos depois de já ser demasiado tarde. Talvez amanhã, ou nunca, eu aprenda que, no amor, guerras podem ser ganhas saindo e fechando a porta. E que desistir às vezes significa continuar.. ”
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Eu tentei. Juro. Tentei por muito tempo correr atrás de pessoas que me deixavam, e acabei ganhando o mesmo vazio que havia deixado pra trás quando fugi do meu próprio medo de terminar sozinho. Na sarjeta. Eu tentei encontrar um caminho, por mais pequeno que fosse, em meios as rejeições, tentei tudo, ou quase tudo, na esperança absurda de tocar o coração de quem nem me via como opção. É tão difícil assim colher o que se planta? E − como sempre − as pessoas amam aquilo que as escapa, que está para além do seu controlo. Os anos se passaram, eu corri por gosto mas me cansei, e percebi que é inútil tentar provar para alguém o significado dela no seu mundo, e o vazio irreparável que ela deixará se tiver que partir. Aprendi também o quanto é inútil esperar que o mundo compreenda uma dor que não é sua. Nunca estão quando é preciso, e são toscos demais pra perceberem o desespero silencioso de alguém que foi esquecido, na tentativa vã de chamar à atenção de uma pessoa que era surda demais pras dores que eu carregava. O mundo me dizendo que devo me doar e que a seu tempo eu colheria os frutos. Devemos amar sem esperar reciprocidade? Ok. Boa sorte com isso. E só espero que não seja tarde pra perceberem que amar sem esperar nada em troca um dia vai significar que ajudaram algum idiota a se tornar cada vez mais forte na arte de não retribuir.. ”
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Se eu te disser que estou perdido, você vai me procurar? Se te disser que ontem foi mais uma noite daquelas e que hoje acordei cansado e com vontade de desistir, e que até as coisas mais belas da vida se tornaram pútridas diante da minha angústia, o que você fará? Você vai me procurar? Com aqueles olhos mortos de tristeza, me pedindo pra parar, ou com aquele pose divino de garota alemã, na crença de que a sua presença ainda move o meu mundo? Você suportará a imagem esquálida da minha presença em desgaste? Suportará a ideia de que tenho pensado em suicídio o tempo todo e que é por uma outra pessoa? Sabe o que é se sentir insignificante e trocado? Sabe o que é não ter forças pra levantar da cama numa tarde chuvosa enquanto a casa toda é inundada pelas águas? Não poder arrumar os lençóis, as roupas espalhadas, os talheres, as latas e as garrafas de bebidas inacabadas, os livros na estante, não poder arrumar nem a própria alma que se decompõe, sabe o que é isso? Não sabe, amor, você não sabe. Porque há sentimentos que só se entendem experimentando, não se aprendem na terceira pessoa.. ”
José Alexandre