Coleção de Frases e Pensamentos de José Alexandre


27 frases




José Alexandre
Gostaria de desconhecer metade das pessoas que conheço, mesmo que isso me custasse um esforço bruto de trocar de nome, ou mudar de cidade. Porque, pôrra, cansa levar pessoas de um lado pro outro, na mente, de lá e pra cá, quando tudo o que nos resta delas são belos momentos juntos enterrados na memória, mas que já não significam nada. Cansa ter a agenda preenchida de contactos que nunca ligaremos, cansa ter a mente abarrotada de nomes de pessoas sem significado, e que connosco partilham de forma paralela a tristeza doce e infinita de uma solidão que nos abraça. Gostaria de poder ser outro, em outro lugar, sem essas crises constantes de desistência, e essa mania dóida de fazer os pensamentos sobre a morte uma ideia fixa. Talvez eu seja triste, acho que é isso ─ ou depressivo. Ou talvez só tenha entendido que todos, nalgum momento, precisamos recomeçar, mesmo que isso signifique que tenhamos que mergulhar perdidamente nos nossos pensamentos mais loucos. Gostaria de ser um fluxo contínuo, e para alguém significar mais do que um livro do qual se cansaram, uma pessoa que não gostam mais, ou um cigarro jogado no asfalto. Se eu pudesse conhecer alguém, gostaria que me olhasse nos olhos, e me lembrasse que as pessoas são isso, abutres, devoradores emocionais, nos dizendo que pode ser a última vez e que devemos amá-las com tudo o que temos. Ou que me recordasse que por mais que no presente as pessoas nos dêem tanta importância, um dia seremos lembrança, e noutro seremos menos que um pedaço de cigarro jogado no asfalto..
José Alexandre
No tibete, quando uma pessoa está prestes a ir embora, eles servem duas chávenas de chá de manteiga. A primeira você bebe e a segunda fica aí até você voltar. Essa prática me fez pensar que essas pessoas têm muita esperança. Talvez seja por serem budistas e acreditarem no retorno das almas, na reencarnação e essas coisas. Achei curiosos, principalmente pra eles que fazem mandalas como demonstração de que nada dura pra sempre. Como representação do nosso estado efêmero e da nossa estadia temporária nesse lugar que chamamos de Mundo, que é também a nossa casa. Ok, deixa isso pra lá. Hoje acordei pensando em alguém que morreu. E então me lembrei que, da última vez que nos vimos, quando ela me procurou, e era de noite, ofereci-lhe gasosa. Que gesto, né! Mas ela se recusou e deve ser por pertencer a aqueles movimentos de pessoas aleatórias que rejeitam esse tipo de coisas pra poderem viver mais tempo. Ou porque faz bem, não sei. Mas foi isso. Conversamos sobre muitas coisas antes do fim. Conversamos sobre quem ela seria no futuro, amanhã. Conversamos sobre quem eu seria também. E agora eu vejo que todas aquelas propostas ilusórias e todos os universos desenhados por nós desapareceram no horizonte, como uma miragem. Ok, ok. Agora eu tenho aqui uma outra gasosa para a próxima vez que eu a vir. Acho que é a minha forma de dizer que espero por ela. É meio onírica essa esperança. Mas, como todos os budistas, eu não perco nada em acreditar. Quer dizer, perco talvez a gasosa, mas nada mais além disso. Absolutamente. E me lembro que naquele último dia que nos vimos e que cada vez mais enegrecia, me ensinou sobre todos os beijos, sobre todos os abraços e sobre o lado bom da escuridão que eu não conhecia.
José Alexandre
Foi a nossa primeira vez. Eu estava triste depois de tudo e sentei-me perto da janela enquanto chovia. Enquanto isso uma rádio situada por cima de uma banca antiga tocava:
"Don”t you remember
Don”t you remember
The reason you loved me before ?"
Só que, depois de algum tempo, as razões que te levam a amar uma pessoa não resistem ao imenso turbilhão que ocorre quando ficamos com elas. E talvez em algum lugar do passado se tenha escondido um momento tão bom, capaz de lutar contra essas águas torrenciais. Brenda trouxe pra mim um chávena com alguma bebida escura que se parecia com café. É isso que eu admiro nela. Ela sempre volta depois do tiroteio, ela sempre volta depois que todos... deixa pra lá. Como eu dizia, foi nossa primeira e grande discussão.
Eu levantei a minha voz, ela atirou coisas à parede. Eu disse que ela não valia nada e ela disse que quem não valia era eu. Ficamos envolvidos nalguma espécie de prisão temporal durante os momentos que se seguiram. Foi como se, por mais que falássemos, ninguém ouvisse ninguém. Fiquei com a sensação de já ter estado morto... e ela disse coisas, cada vez mais. Então, atordoado por aquele monte de palavras ditas num idioma tão feminino que nunca conseguirei entender, caminhei perto da janela.
Às vezes disparamos tanto que só percebemos que acertamos em nós mesmos depois de já ser demasiado tarde. Talvez amanhã, ou nunca, eu aprenda que, no amor, guerras podem ser ganhas saindo e fechando a porta. E que desistir às vezes significa continuar..

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