Frases de Memória (adicionadas pelos usuários)


Thiago Maciel
Tinta guache

Hoje, o cheiro da tinta guache ainda o fazia lembrar seus tempos de pré-escola. O cheiro sobreviveu, mesmo após tantos anos, em algum lugar entre seus neurônios, agarrado à sua alma. Sentir aquela essência não era muito comum, e houve um tempo em que ele esqueceu o quanto era bom ter de volta aquelas memórias de sua infância com apenas uma fungada. Era como uma reação em cadeia, que o remetia ao exato local onde ele se encontrava quando tinha apenas seis anos. Fechando os olhos e deixando o ar entrar até o bronquíolo mais distante, conseguia lembrar da cor das paredes, dos cartazes pendurados com desenhos e letras do alfabeto cursivo, das janelas que serviam de suporte para o copinho de feijão plantado no algodão, da mesinha com um papel sujo de tinta, da professora, do bebedouro do corredor, e até do barulho da sirene que anunciava a hora do recreio. Nenhum outro tinha o poder de fazer o que o cheiro da tinta guache fazia. Era sublime. Quase tão bom quanto esse, era o cheiro do jornal gelado. Isso, jornal gelado. Essa combinação tinha o poder de teletransportar, também, ao passado, quando sua mãe trazia picolés do mercado, enrolados em folhas de jornal para que não derretessem no caminho. Ele sentia naquilo um cheiro característico que, agora com alguns anos a mais, o fazia sorrir sozinho, mergulhado naquelas lembranças. Para ele, aquilo era a sua própria máquina do tempo. Tentou, inúmeras vezes, definir qual era o melhor, comparava um com o outro, mas nunca obteve sucesso. Eram tantos cheiros e tantas lembranças. Até aqueles que, para ele, não traziam recordação nenhuma, eram bons e mereciam estar na lista dos melhores. Pensou no cheiro de livro novo, no cheiro de terra molhada, no cheiro de grama cortada, no cheiro de massa de modelar. Lembrou também do cheiro de café recém passado, no cheiro da canela e no cheiro da comida da vó.

Não adiantava. Definitivamente, a tinta guache era incomparável.

Maria Luz
O meu silêncio, é composto de gritos abafados e palavras mudas, quem o recebe pode encontrar milhentas respostas… Meu silêncio, é também o único argumento que utilizo com aquele que não me sabe ouvir, não me entende e compreende, em que só pensa em falar, ser superior, convencido, impor a sua verdade, sem se pôr no meu lado, sem calcorrear minha estrada de vida… Assim de nada adianta falar com o outro... Se não nos ouvem, e só eles contam, e se é para corromperem as minhas palavras ou conspurcá-las, então eu prefiro que o façam com o meu silêncio, do qual nada podem corromper. Pois o meu silêncio é um estado de espírito, em que eu vivo o amor e a minha paz interior… Sou pessoa taciturna, que gosta da paz, de amar, de estar e sentir bem. Amo o silêncio, e nele encontro o meu Eu interior. Eu sou o Silencio das memórias, dos sentimentos, do perdão, do coração magoado e alegre, das minhas acções, da vontade de ser silêncio de mim mesma, silêncio das minhas palavras mudas e dos meus gritos abafados, e acima de tudo SILÊNCIO com Deus, pois foi a Ele que eu prometi o meu silêncio em vez de proferir palavras que marcam e magoam, para que eu possa evoluir no meu aprendizado terreno… O SILÊNCIO vive em mim, e eu evoluo nele com paz e amor por mim e pelos outros… Talvez seja como dizia Clarice Lispector :
“Há um grande silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras. E do silêncio tem vindo o que é mais precioso que tudo: o próprio silêncio..