Frase de Thiago Maciel Frase adicionada por
tamaciel em 05/10/2013
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Extraverbalidade Durante a sua vida, ele tornou-se uma pessoa observadora dos pequenos detalhes, crítico do que era indiferente para os demais, talvez, e que para ele guardava muitos significados e muitas explicações. Nem sempre foi assim. Ele já foi um pouco avoado, estabanado nas suas decisões e nas suas reações e pouco se importava com os demais, o que não o fazia mais ou menos feliz. Aprendeu a conhecer o que as pessoas queriam dizer, quando não queriam dizer. A extraverbalidade de um olhar, de uma carícia ou de um gesto. O que estava guardado atrás de um punhado de palavras. O que permitia identificar a sutileza de uma mentira ou a franqueza de uma verdade. Era atencioso com a atitude das pessoas, o que permitiu saber o motivo dela sempre ter desviado o olhar quando pronunciava “te-a-mo”, o que o incomodava bastante. Entendeu o porquê dela rechaçar as suas tentativas pegar na mão dela em público. Ele percebeu que a falta de ciúme não fazia parte da personalidade dela, a coisa era com ele. E através dos atos dela, ele soube o motivo dela nunca ter se importado com as decisões dele. Aliás, ela nunca se importou, realmente, com ele. E finalmente ele soube o motivo dela ter demonstrado uma lívida indiferença enquanto dizia não gostar mais dele. Tudo isso lhe causava uma dor lancinante. Ele já não era mais ingênuo. ”
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Pé - d água Todas as noites, antes de dormir, ele passava horas pensando. Como em um ritual diário, se deitava, se cobria com um lençol consumido pelo tempo, murmurava as mesmas palavras e queixas dos últimos cinquenta anos. Mantinha seus olhos abertos. Eram duas bolitas negras e úmidas, que se misturavam com a escuridão daquele quarto. Se sentia só. Sentia que seus pensamentos e sua imaginação eram a fuga do enlouquecimento que poderia surgir a qualquer momento, ocasionado por aquela angústia constante. A chuva começou a cair. Estava deitado, escutando o barulho. Pouco a pouco surgiam as lembranças da sua juventude, que já estavam quase cobertas de poeira, e esta noite ele pensou: Assim como essa chuva chove, já chovi na vida de muitas pessoas. Entrei na vida de muitas como se tivesse caído do céu, assim, de repente, como quando molha imprevisivelmente. De umas, permaneci por várias estações. De outras desapareci, como uma chuva de verão, que se faz evaporar rapidamente. Lembro-me, também, que já tentei chover para algumas que carregavam guarda-chuvas. Haviam os grandes e os pequenos. Os coloridos e os pretos e brancos. Comecei chovendo aos poucos, e acabei chovendo intensamente, sem perder a serenidade. Eu chovia na vertical e na diagonal. Mas nada adiantava, os guarda-chuvas eram eficazes. Também existiram pessoas que choveram na minha vida. Houve as que caíram como uma garoa que quase não molha, que incomoda. Entretanto, houve as que caíram como um temporal, desses que nos deixam ensopados, às vezes submersos nelas mesmas. Ainda que pudesse cair a mais fina das garoas, não possuo guarda-chuva. Estou seco, e assim esperarei a próxima gota que cairá sobre mim. E finalmente ele dormiu. ”
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Saltimbancos Acrobata, que tanto se equilibra em harmonia Pule desse trapézio que já é pequeno demais Para caberem todos os seus sonhos teatrais E, assim, deixe-se navegar nesse mar de calmaria Você, bailarina, que faz suas piruetas macias Rasgue a roupa apertada para que não lhe prenda Escolha uma sapatilha que o fogo lhe acenda E voe, misture-se com o ar que lhe traz ousadias. Malabarista, você que lança tanta sorte às alturas Pare de alternar em seu rosto a alegria e a tristeza Porque enquanto uma é coragem, a outra é incerteza E um dia, talvez, seus sorrisos serão nossas loucuras. Vá, palhaço, coloque seu nariz e vista sua peruca Sinta por dentro a felicidade que aparenta agora Já que atrás da sua maquiagem o choro lhe devora E esqueça toda essa coisa que mais lhe machuca. Todos vocês, saltimbancos desses grandes picadeiros, Façam de suas vidas espetáculos majestosos Que não faltem gestos audaciosamente amorosos E então permanecerão vivos os artistas verdadeiros. ”
Thiago Maciel