Frase de Carlos De Castro

Frase adicionada por carlosvieiracastro em 17/01/2025


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A PASTORA DA PESQUEIRA

Pastavam-se: ela, a pastora e o rebanho amado,
De pouco sustento em terras bravias,
Partilhando ela por imensos dias
O seu tão pouco farnel das jornadas
Que repartia pelas mais doentias
Crias do rebanho de seu prado,
Com as mãos pelo vento gretadas.
Chamava-se ela, a pastora bela - Esperança,
Moça criada, ainda virgem, nos seus quarenta
De vida de angústias e maior tormenta,
Que se pela idade precoce morresse,
E até mesmo se só desfalecesse,
Haveria quem lhe chamasse santa.
E santa virgem foi aquela Esperança silvestre,
Antes de lhe aparecer entre as giestas bravias,
De entre os socalcos das pedras xistas do agreste
Num momento único, sublime, arrebatador,
Se é que ainda há quem acredite no amor,
Puro, único, indefectível, da maior verdade.
Ei-lo, o vulto esguio, de cabelos sem idade,
Olhos marotos e barriga de pouco sustento
Que sempre dela desejou a virgindade,
Surgindo entre o gado da transumância.
Era Júlio, o pastor e comparsa de infância,
Que naquela tarde ventosa assobiando
Nas fragas, como numa sinfonia ao amor,
Lhe disse: Percamos, sem pena a virgindade
Qualquer remorso ou troço de dor,
Em nome de Jesus Cristo, Nosso Senhor
Não esquecendo o da Santíssima Trindade...

E a coisa, até correu bem, segundo - o rebanho assistente...

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Triste Por Escrever, em 17-01-2025) (Carlos De Castro)
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