Frase de Remisson Aniceto

Frase adicionada por Remisson em 12/12/2017


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O morredouro

Na minha rua há um morredouro, quase como 
aquele da Irmã Angélica de Bombaim. 
Lá, tudo é miserável e não há enfermeiras, 
só moribundos, decadentes, agonizantes, 
cujas vidas não podem ser saciadas com 
comidas ou remédios terrenos. 
As paredes são descarnadas e pequenas valas 
serpenteiam entre as enxergas, 
um acúmulo de sangue, pus, escarros e lágrimas. 
Tudo forma um quadro de pintura abstrata, 
involuntária, de chãos e paredes multicores, 
vermentos, com predominância do vermelho. 
Cães comem pelos cantos e lambem as valas; 
não é justo chamá-los de nojentos: não há 
nojo em saciar a fome, há satisfação. 
Vê-se uma sutil beleza naquela podridão, 
naquele concerto de gemidos e lamentos. 
Oh! Deus! Quando minhas pernas bambearem 
estarei lá, adepto da loucura por algumas 
horas, alguns meses ou até a hora extrema, 
a critério dos vermes que, quase imperceptivelmente, 
já me corroem as entranhas... (Remisson Aniceto)
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