Remisson Aniceto (7)

“Dizem que acabou a escravidão,
mas estão muito enganados.
Eu sou o teu servo, o teu criado
e passo a vida escravizado,
acorrentado ao teu coração.”

― Remisson Aniceto

“UMA PEQUENINA NOVA ERA

Minha cidade é linda,
é verde amarela azul e branca.
Minha cidade é pequenina
e tem rio, tem lagoa,
tem São José da Lagoa,
tem lindas igrejas,
tem vale, tem ladeira,
tem ponte ligando os corações
de gente boa e hospitaleira,
tem muito sol e muita lua.
Ontem fui lá e me senti tão feliz!
A minha cidade ainda tem crianças
brincando sem medo nas ruas.”

― Remisson Aniceto

“Não é preciso que estejas aqui.
O vento acaricia com mãos invisíveis
e és parte dele, atravessando
as frinchas das portas,
sussurrando delícias aos meus ouvidos.
Não é preciso que estejas aqui, não.
Para que eu te veja, bastam-me
os olhos do pensamento.”

― Remisson Aniceto

“Ria hoje, chore hoje, abrace hoje, ame hoje,
reze hoje, peça perdão hoje, perdoe hoje, trabalhe hoje, brinque hoje. Não deixe para amanhã as lágrimas que devem cair hoje, pois elas podem secar como seca o leito dos rios.”

― Remisson Aniceto

“PERÍCIA E SORTE

Viver requer perícia e sorte.
Sorte para ter uma boa mãe e perícia para ser um
bom filho.
Perícia para ser um bom pai ou mãe e sorte para ter
bons filhos.
Sorte, por exemplo, para que sua casa não
desmorone sobre você
pela imperícia dos que a construíram.
Viver não se resume em respirar, ver, falar, ouvir,
andar...
é muito mais: é ser capaz de ter aspirações, de
entender
e aceitar que ninguém consegue sobreviver sozinho.
Viver requer perícia e sorte.
Sorte para ser amado e perícia para saber amar.
E ainda perícia e sorte para se ter uma boa morte.”

― Remisson Aniceto

“TERAPIA DO RISO ABSURDO

“Risus abundat in ore stultorum”

Contraídos o risório e o zigomático,
explode em ti sonora gargalhada.
Do veneno do teu riso tão elástico
minhas cordas também são contagiadas.

Tudo em ti é motivo de euforia
e até o vento faz-me cócegas passando.
De tudo rimos e na falsa alegria
o teu riso com o meu riso vai rimando.

Com o riso tu me enganas e eu te engano.
Se sorrimos, damos bah! para a tristeza.
Riamos, que o riso encobre o dano.

Devemos rir, pois só o riso nos sobeja.
Serão bobos? vão dizer. Somos insanos!
E talvez rindo, a triste Morte não nos veja.”

― Remisson Aniceto

“ETIQUETA

O meu peito é casa repleta
de sentimento e de emoção,
a porta fica sempre aberta
e a entrada é pelo coração.
Eu anseio o teu rico abraço
e sei que ainda o mereço,
o que quiseres eu faço,
pagando qualquer preço.
Ainda há um recomeço,
então vem, me abraça!
Eu não tenho nenhum preço:
te sou todo de graça.”

― Remisson Aniceto

“NOSTALGIA

Oh! Minha querida, onde estarás agora?
Desde aquela nossa estranha despedida,
esta angústia da saudade me devora
e eu te procuro nesta ânsia desmedida.

A tristeza vai me arrastando pela vida
e a esperança me empurrando mundo afora;
e te pergunto onde estarias escondida,
se ainda me esperas ou me esqueceste nesta hora.

Estou tão triste, tão diverso de outrora,
que a Deus peço encontrar-te sem demora
e expulsar a dor que a minha alma entorpece.

Acaso me chamas e o teu corpo ainda me implora?
Será que ainda me amas? — o meu peito
estremece!,
ou firme dirás: “Já te esqueci! Vai-te embora!”?”

― Remisson Aniceto

“CLASSIFICADO (ANÚNCIO DE EMPREGO)

Contrata-se um assassino, um matador de aluguel
que tenha na profissão bastante experiência.
Deve ser frio, calculista, insensível e cruel.
Exige-se carta de referência.

Quem o trabalho quiser assumir,
favor encontrar-me na mais triste praça.
Direi que a vítima não vai reagir,
que é homem semimorto, descartável e sem graça.

Mas que seja certeiro o tiro ou o golpe do punhal:
não quero que o ferido se arrependa.
Melhor no coração para ser fatal.

Depois, já não haverá dor ou ferida.
E que o contratado não se surpreenda
ao saber que o pagamento inclui a minha vida.”

― Remisson Aniceto

“EXTRANHA(MENTE)

Há outra mente
emparedada
vizinha
rente à minha
mente extra
estranha
hermética
esta outra mente
anética
não é minha
é de casa estrangeira
subtrativa
e esgueira
que me furta e destrói
a fé diária
e aprisiona e corrói
mesquinha
sólidas crenças
utopias várias
e tantas ideias
que eram só minhas.”

― Remisson Aniceto

“NOSTALGIA

Oh! Minha querida, onde estarás agora?
Desde aquela nossa estranha despedida,
esta angústia da saudade me devora
e eu te procuro nesta ânsia desmedida.

A tristeza vai me arrastando pela vida
e a esperança me empurrando mundo afora;
e te pergunto onde estarias escondida,
se ainda me esperas ou me esqueceste nesta hora.

Estou tão triste, tão diverso de outrora,
que a Deus peço encontrar-te sem demora
e expulsar a dor que a minha alma entorpece.

Acaso me chamas e o teu corpo ainda me implora?
Será que ainda me amas? — o meu peito estremece!,
ou firme dirás: “Já te esqueci! Vai-te embora!”?”

― Remisson Aniceto

“AMOR E PAIXÃO

Ontem, com os olhos de um clarão mais insuspeito,
tu me afirmavas que, tal qual um bendito raio na
escuridão,
a chama do mais exato amor matou a dor do teu peito,
destruiu as amarras da alegria e invadiu o teu coração.

Eu nunca duvidaria da tua felicidade naquele momento...

Porém, hoje me procuras e no mais profundo lamento,
sem luz no olhar me declaras — e te ouço, insatisfeito —
que foste enganada, que agora vives na aflição,
que aquele tal sublime amor tinha defeito,
pois num segundo, de repente e sem razão,
feito um maldito raio ele fugiu, te rasgando do peito pra
fora.

Discordo de ti: o amor verdadeiro jamais será imperfeito:
ele chega calmo, sereno, excelso se aninha e se demora;
não chega e nem sai como um fulminante raio na
escuridão;

este amor não mata, não fere, não magoa o nosso peito,
nem abandona tão depressa e sem motivo o coração.
O que sentiste, mulher, não foi amor — era paixão.”

― Remisson Aniceto

“TERAPIA DO RISO ABSURDO

“Risus abundat in ore stultorum”

Contraídos o risório e o zigomático,
explode em ti sonora gargalhada.
Do veneno do teu riso tão elástico
minhas cordas também são contagiadas.

Tudo em ti é motivo de euforia
e até o vento faz-me cócegas passando.
De tudo rimos e na falsa alegria
o teu riso com o meu riso vai rimando.

Com o riso tu me enganas e eu te engano.
Se sorrimos, damos bah! para a tristeza.
Riamos, que o riso encobre o dano.

Devemos rir, pois só o riso nos sobeja.
Serão bobos? vão dizer. Somos insanos!
E talvez rindo, a triste Morte não nos veja.
---”

― Remisson Aniceto

“REALEZA

Por que em tudo quanto vejo cuido vê-la?
Por que não fico um segundo desta vida
sem pensar na minha amada e esquecê-la,
se ela é joia que pra mim está perdida?

A cada fim de semana tão sofrido
me transformo nas flores que lhe oferto,
mágica forma que creio ter aprendido
para vê-la, pra senti-la, pra estar perto.

Abdico hoje da tristeza,
do sofrer e da amargura abdico,
qual um rei que não quer na dor a realeza.

E como antes para tê-la eu me dedico,
para ser rei, mas rei feliz e tenho certeza:
quando a tiver, serei de todos o mais rico!”

― Remisson Aniceto

“MEU JARDIM

para Zoze, Monique, Fernanda, Bruno e Amanda

Ó florzinha risonha
que um anjo me deu.
Ri, Fernandinha,
que o mundo é teu.

E esta rosinha morena,
tão séria e pensativa!
Monique linda e serena,
com um sorriso que cativa.

Meu filho Bruno de branca tez,
vem me abraçar e beijar.
És flor que ontem Deus fez
e mandou pra eu regar.

Deus me deu um vaso reluzente
e dele colhi três amores.
Rosangela é o anjo-semente
de onde nasceram as três flores.

Ps - Planta e semente:

E depois trouxe a Amanda
ao jardim mais esplendor.
Flor que a Monique nos manda
pra nos provar seu amor.”

― Remisson Aniceto

“MENTE INSANA

Bebi da água da imortal nascente
e tal qual ela me tornei:
borbulhante, límpido, uma semente.
Da torrente do que fui mais nada sei.

Refiz a capa, reescrevi o livro todo
da vida. Passaram-se anos, séculos talvez.
O que de mais sério havia foi engodo
desta mente que perdeu a sensatez.

Fiz-me deus sem querer. De aprendiz,
hoje tenho a verdade e sou a glória.
Quem crer em mim - deus! - será feliz.

“A mentira dos poetas a tudo contamina”,
diz Borges em “O Imortal”. Serei história?
Real ou fantástico, a mente é quem determina.”

― Remisson Aniceto

“CUIDADO, MENINA!

As pessoas desconfiarão do brilho do seu olhar
que por onde você passa tudo embeleza e ilumina.
Quem encontrar com você nesta manhã ensolarada
vai imaginar... se encantar... vai perguntar...
dizer que você está parecendo drogada,
que ao falar parece estar cantando.
Todos vão querer saber o que aconteceu na
madrugada,
porque os seus olhos agora só vivem brilhando,
porque você passa as horas suspirando,
que atravessa as ruas sem cuidado
e que, por onde anda, parece flutuar...
Eles não sabem, nem desconfiam
que você está levitando,
e se alguém lhes disser vão duvidar
que é a Felicidade dos seus olhos transbordando.”

― Remisson Aniceto

“NÃO VIAJA, NÃO!

Não embarca não,
não, não “viaja”,
deixa sair o avião.
Não vem me procurar
que será inútil a viagem:
vês de mim ao longe só a miragem
durante a tua solidão.
Não viaja não, não voa,
vais viajar à toa,
pois não estarei aqui
nem em qualquer outro físico lugar.
Mas te garanto que não morri
e na morte nem pensei...
Preciso tanto tanto tanto de ti,
que enquanto me amares não morrerei.
Sempre que a saudade apertar,
sempre que te invadir a solidão
e quiseres me encontrar,
olha dentro do teu coração.”

― Remisson Aniceto

“RECEITA PARA FAZER POEMAS DE AMOR

Me perguntam se eu sei
o que é mesmo o amor
e o segredo pra fazer poesia.

O que é mesmo o amor, não sei...
Segredo pra se escrever poesia?
Nunca pensei que havia.
Se houver, me digam por favor,
pra eu melhor fazer versos de amor.

Só lhes digo, sem pudor,
que os meus poemas de amor
nascem da forma mais natural:
na sedosa pele de um belo corpo
que é o meu papel especial.

A dona desse corpo, quando bem quer,
se atreve a me dar a sua poesia,
me deixa fazer o que eu quiser,
pede que eu a ame sem demora
e com os poros abertos de euforia,
me abraça, me beija, me namora.

E sabendo o quão é fugaz a poesia
e o tanto que o amor pode ser breve,
a minha mão recolhe, trêmula de alegria,
os versos que o seu corpo escreve.”

― Remisson Aniceto

“CAFÉ DA MANHÃ

para nós

Amor, ao chegares de manhãzinha para o café na
padaria, depois de desejares bom dia, pede dois
cafés. Deixa a minha xícara do lado, encostadinha na
tua. Roça suavemente a tua xícara na minha, como
se os recipientes a todo momento se beijassem.
Caso a atendente, ao te ver desacompanhada,
curiosa questionar para quem a outra xícara, diz
que já estou chegando. Sorve teu café lentamente,
de olhos fechados. Imagina-me líquido, quente
e encorpado dentro da xícara. Ao terminares de
beber, diz pra moça recolher as xícaras, que já bebi
o meu café. Observa a expressão de incredulidade
da atendente. Ela, vendo o meu café inteiro na
xícara, deverá supor que tu estás ficando louca...
ou que ela esteja ficando desajustada. Pior ainda
para ela será se te despedires assim: “Obrigada,
moça, o café estava uma delícia. Bom trabalho. Já
estamos indo.” Aí talvez ela não mais duvide da tua
insanidade ou da loucura dela. Mas nós sabemos
que não estamos loucos. Só nós sabemos.”

― Remisson Aniceto

“UM SEGUNDO

O relógio do tempo é incapaz
de marcar o minuto e a hora.
E num segundo a vida, fugaz,

chegapassavaiembora.

É tão efêmero um segundo...
qual criança recém-nascida,
que só teve tempo de vir ao mundo,
mas não teve tempo de ver a vida.”

― Remisson Aniceto

“TRÊS VIDAS

Eu tive três vidas.
Na primeira eu era muito feliz, apesar de o mundo
estar em guerra.
Fui convocado a lutar pela Paz.
Fui e fiz o melhor que pude.
Voltei sem um braço e manco... porém muito feliz
pelo dever cumprido.
Na segunda vida eu também estava muito feliz,
conquanto outra vez fosse tempo de guerra.
Apesar de manco e sem um braço, novamente
convocado, fui, lutei, voltei feliz, com muitas feridas
pelo corpo, sem um braço... e agora também sem
uma perna.
Quando nasci pela terceira vez, sem um braço
e uma perna e com o corpo cheio de feridas,
o mundo ainda estava em guerra (sina da
humanidade!).
Outra vez convocado, decidi não ir, a não lutar pelo
Bem comum.
Indiferente, apático, mergulhado no meu
egocentrismo (que mancada!), cruzei os braços.
E nunca mais voltei da guerra... e nunca mais fui
feliz...”

― Remisson Aniceto

“SE DE REPENTE TE VAIS...

Se de repente te vais embora, fico à beira do cais,
esperando o teu regresso em cada navio.
Se te vais embora, entre os secos pinheirais,
sem demora morro de solidão e de frio.

Se te vais embora, morro de fome e de sede,
pois só teus beijos me saciam a sede e a fome.
Se te vais embora, nunca mais me deitarei na tua
rede,
onde te ouço sussurrando o meu nome.

Sou qual o seco leito de um rio,
sedento e faminto por dentro e por fora.
Morro de sede e de fome, de solidão e de frio,
se de repente te vais embora.

O que será de mim se não ficares comigo?
No árido rio, no porto vazio
ou entre os desfolhados pinheirais,
o que será de mim sem o teu abrigo,
se de repente da minha vida te vais?

Nasci pra te amar o tempo inteiro.

Vem afugentar os meus ais,
dessedentar o nosso rio,
reverdejar nossos pinheiros,
repovoar o nosso cais.”

― Remisson Aniceto

“O MEU ÚLTIMO ABRIL

Que você viesse esperei o tempo inteiro,
e esperando vivi dia e noite, noite e dia,
por anos a fio, de janeiro a janeiro.
Mas neste ano você prometeu que viria!

O meu último Abril seria o mais bonito,
nutria eu a esperança mais certa.
Logo cedo tirei da parede O Grito
e o escondi no peito. Deixei a porta aberta.

Aquela muda boca aberta enfeava o ambiente
e eu queria o dezesseis mais bonito,
para que quando você viesse finalmente,
fosse aquele nosso Abril o mais claro e inaudito.

Tudo enfeitei de luzes e de flores,
de cores e luzes tremeluzentes.
As mesas repletas de sabores
e música por todo o ambiente.

Assim de pura luz eu queria o meu último Abril.
Os outros tinham sido tão escuros e tão feios!
Mas também daquela festa o sol fugiu:
esperei o tempo inteiro, anoiteceu e você não veio!”

― Remisson Aniceto

“UTOPIA

Da minha vida tantos bons sonhos descartei
e sonhos vãos guardei demais n’alma doente…
Das ficções sinto que nunca despertei
e sigo em devaneio noite e dia, inutilmente.

É de fúteis sonhos tão extensa a minha lista,
que acordado o meu ofício é apagá-los.
À boca pequena dizem que sou niilista,
que por ceticismo jogo a vida pelos ralos.

Sei que preciso perder essa louca mania
— pois a vida é bela, mas não é só fantasia —
de sonhar o tempo inteiro e em desalinho.

Deixar de sonhar? Não, não é o que eu digo!
Só vou desde agora separar o joio do trigo —
e de sonhos bons tornar real o meu caminho.
---”

― Remisson Aniceto

Coleção de Frases e Pensamentos de Remisson Aniceto

360 frases

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