Frase de Newton Jayme
 | “ Pra quem não sabe ler,
o ponto final não cai.
Fica suspenso no ar,
feito nota que não vai.
A vírgula samba torta,
para, volta, pede mais,
dança no meio da frase
como quem não quer chegar.
Dois-pontos chamam a cena:
— atenção, que vem alguém.
Mas não dizem se é promessa
ou se é falta de vez.
Reticências…
ah, reticências…
não são sonho, nem perdão,
são o tempo respirando
entre o sim e o não.
Pergunto?
Pergunto.
Exclamo!
Só quando dói.
Tem palavra que se canta,
outra só cabe no tom.
Parênteses guardam segredos
que a voz não sabe tocar,
travessão corta o verso —
abre espaço pra entrar.
Aspas roubam vozes alheias,
‘simples’ falam de mansinho,
barra / divide destinos,
contra-barra \ muda o caminho.
Cifrão pesa no compasso,
percentual encolheu,
hashtag grita no vazio,
arroba chama quem não veio.
Soma (+) o que falta no peito,
menos (-) fé no que é igual,
igual (=) só na partitura,
na vida é sempre desigual.
No fim — se houver fim —
o acento sobe e cai,
grave puxa a melodia,
circunflexo suspira e vai.
Nada fecha.
Nada cala.
Nem o ponto final.
Porque ler é ouvir o mundo
fora do tempo verbal.” |
Imagem da Frase:
Mais frases de Newton Jayme
Newton Jayme
