Frase de Newton Jayme
 | “ A mesa posta em cada era se levanta, como tribuna erguida sobre o tempo, e nela o amor — esse réu inocente — é novamente repartido entre mãos que tremem, entre povos que esperam, entre lábios que beijam, entre corpos que guardam sementes. Outrora barro nos dedos dos primeiros, fez-se trigo no cântico dos altares, vinho que incendia o medo dos tiranos, sal que queima a chaga dos impérios. Assim marchou, transfigurado, pelas veias ardentes das nações. Ergueram-se muralhas, coroas, decretos; teceram-se penas e véus de fumaça sobre almas e janelas fatigadas; e as leis, jurando guardar as promessas, não guardaram nem ao menos o nome dos que as pronunciaram. Mas sempre há um gesto que escapa, faísca clandestina na noite das eras, uma migalha que desmente os arquivos, um sopro que afronta a lógica dos poderosos e fermenta a revolução, a luta e o impossível como se fosse simples nascente. O amor então se transmuta: ora raio que atravessa ruínas, ora sombra que vela o último pássaro, ora palavra que abre ferrolhos na garganta de um tirano e devolve o fôlego à cidade. E quando as civilizações ruem como colunas fatigadas, ele ressurge — tímido, teimoso — na voz exilada que não esquece o caminho, no pão escondido na bolsa do viajante, no vinho furtivo no canto da criança, milagre pequeno em gesto ameno que o escriba do reino não registra. Talvez assim sobreviva o amor: transubstanciado em tudo o que sobra, no pó que brilha, no gesto anônimo que sustém auroras, no lume que insiste em reavivar o mapa incerto do amanhã — íntegro, insurgente, sempre a se reinventar e partilhar.” |
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