Frase de Newton Jayme
 | “ OFICINA DO TEMPO O corpo, meu bem, nasceu motor, rodando livre, engrenagem boa, chiando versos no calor, de uma oficina onde nada desentoa. Cada passo era pistão, cada afeto, um parafuso, cada sentido, uma invenção, que o coração punha em uso. E o tempo vai afinando, desfazendo o fio, mas o corpo vai dançando, mesmo sem conserto, arrepio. O olho apaga o horizonte miúdo, o ouvido perde algumas camadas, a pele risca como um estudo, que o vento lê em linhas falhadas. A máquina range, desafina, o corpo busca ar nos cantos, e o mundo, quando lhe dá sina, vai desligando os pactos e os encantos. Mas o corpo não se cansa, resiste e vai, mesmo quando o mundo balança, mesmo quando cai. Até que um dia a vida avisa: não há diagrama que endireite. O corpo, velho, se reorganiza, a máquina aceita o que lhe foi feito. E enquanto a máquina — relíquia fina — se encosta ao ferro-velho, ao chão, o corpo, sem cerimônia ou sina, se recolhe ao breu do porão. Tudo volta ao berço antigo, seja aço, músculo ou lembrança; na despedida, corpo e amigo, somos sopro, fé e esperança.” |
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