Frase de Newton Jayme

Frase adicionada por Newton-Jayme em 14/11/2025

Newton Jayme
SOMOS TECIDOS JUNTOS

Vai ver que a vida é isso, meu bem,
um fiapo que escapa
do bolso da camisa de alguém
e, sem pedir licença,
costura o destino da gente.

E a gente nem nota:
o mundo se remenda pelas bordas,
um ponto torto aqui,
outro distraído ali,
até que um silêncio mal posto
faz o pano inteiro desabar,
mas sem deixar o sonho desandar.

Pois tem menino que vê longe.
Desses que ainda guardam
um resto de claridade nos olhos
e acham a paz escondida
numa linha azul caída no chão.
Fazem dela um desenho,
uma promessa,
um recado pra quem já desaprendeu.

E a fé — essa velha artesã —
vai dizendo baixinho
que ninguém se basta, não:
que tem cabeça que guia,
tem mão que ampara,
tem pedra que só encontra sentido
na companhia das outras.
E assim o corpo vai seguindo,
mesmo quando padece ou manca.

Porque viver, meu amor,
é aceitar que o tecido é inacabado,
que tem rasgos, tem remendo
e tem história cruzada no avesso.
É deixar que outra pessoa
acerte o ponto que te faltou,
e oferecer, sem pressa,
o ponto que falta nela;
afinal, o planeta é uma só panela.

E quando um cai — sempre cai —
a queda faz barulho em todos nós.
O tear inteiro se comove,
treme, reclama cuidado,
pede que a gente volte,
que a gente veja,
que a gente segure de vez.

No final das contas,
a Terra não passa
de um grande pano estendido na sala,
onde bordamos uns nos outros
sem seguir molde algum.
E cada gesto que a gente costura
vai acordando as notas do mundo,
até que um sopro comum
— desses que vêm do fundo do peito —
nos lembre que a vida inteira
foi feita pra ser tecida
a muitas mãos,
numa só respiração,
num só coração —
a pulsar a existência.


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SOMOS TECIDOS JUNTOS 

Vai ver que a vida é isso, meu bem,
um fiapo que escapa
do bolso da camisa de alguém
e, sem pedir licença,
costura o destino da gente.

E a gente nem nota:
o mundo se remenda pelas bordas,
um ponto torto aqui,
outro distraído ali,
até que um silêncio mal posto
faz o pano inteiro desabar,
mas sem deixar o sonho desandar.

Pois tem menino que vê longe.
Desses que ainda guardam
um resto de claridade nos olhos
e acham a paz escondida
numa linha azul caída no chão.
Fazem dela um desenho,
uma promessa,
um recado pra quem já desaprendeu.

E a fé — essa velha artesã —
vai dizendo baixinho
que ninguém se basta, não:
que tem cabeça que guia,
tem mão que ampara,
tem pedra que só encontra sentido
na companhia das outras.
E assim o corpo vai seguindo,
mesmo quando padece ou manca.

Porque viver, meu amor,
é aceitar que o tecido é inacabado,
que tem rasgos, tem remendo
e tem história cruzada no avesso.
É deixar que outra pessoa
acerte o ponto que te faltou,
e oferecer, sem pressa,
o ponto que falta nela;
afinal, o planeta é uma só panela.

E quando um cai — sempre cai —
a queda faz barulho em todos nós.
O tear inteiro se comove,
treme, reclama cuidado,
pede que a gente volte,
que a gente veja,
que a gente segure de vez.

No final das contas,
a Terra não passa
de um grande pano estendido na sala,
onde bordamos uns nos outros
sem seguir molde algum.
E cada gesto que a gente costura
vai acordando as notas do mundo,
até que um sopro comum
— desses que vêm do fundo do peito —
nos lembre que a vida inteira
foi feita pra ser tecida
a muitas mãos,  
numa só respiração,  
num só coração — 
a pulsar a existência. (Newton Jayme)
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