Frase de Newton Jayme

Frase adicionada por Newton-Jayme em 28/09/2025


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CANÇÃO DO VÉU E DA COR  

Na fila da vida eu não vi meu retrato,
Cheguei sem diploma, sem terra, sem prato.
O moço ao meu lado, sorrindo demais,
Já vinha de berço, já vinha de paz.

Mas diz que a justiça é vendada e gentil,
Que trata igualzinho o favelado e o fuzil.
A lei é a mesma, proclama o doutor...
Mas quem desenhou, esqueceu da cor.

Se eu puser o véu da ignorância,
Será que você me dá confiança?
Se eu vestir o seu sobrenome,
Me chama de irmão ou ainda de fome?
Se eu nascer na sua cadeira,
Você me entrega a chave da feira?
Ou me diz que o mérito é sorte,
Que o jogo é limpo — no fio da morte?

Na porta da escola, tem fila e tem filtro,
Tem nome na lista, tem número escrito.
O filho do engenho já nasce eleito,
O neto da senzala, já nasce suspeito.

Mas vem o juiz com toga e razão,
Dizer que é preciso pesar o perdão.
Tratar diferente pra ser mais igual,
Subir a ladeira com freio moral.

Se eu puser o véu da ignorância,
Será que você me dá confiança?
Se eu sentar na sua cadeira,
Você me serve ou fecha a porteira?
Se eu ganhar no sorteio da raça,
Você me acolhe ou me manda pra praça?

Ah, doutor...
A balança é cega, 
mas pesa a cor.
Ah, professor...
Seu livro é neutro, 
mas quem escreveu
foi o senhor.

Igualdade sem chão 
é miragem no ar,
Quem nasceu no porão 
não quer se ajoelhar.
E se a história não volta pra consertar,
Que o futuro se incline pra equilibrar. (Newton Jayme)
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