Frase de Newton Jayme
 | “ CANÇÃO DO VÉU E DA COR Na fila da vida eu não vi meu retrato, Cheguei sem diploma, sem terra, sem prato. O moço ao meu lado, sorrindo demais, Já vinha de berço, já vinha de paz. Mas diz que a justiça é vendada e gentil, Que trata igualzinho o favelado e o fuzil. A lei é a mesma, proclama o doutor... Mas quem desenhou, esqueceu da cor. Se eu puser o véu da ignorância, Será que você me dá confiança? Se eu vestir o seu sobrenome, Me chama de irmão ou ainda de fome? Se eu nascer na sua cadeira, Você me entrega a chave da feira? Ou me diz que o mérito é sorte, Que o jogo é limpo — no fio da morte? Na porta da escola, tem fila e tem filtro, Tem nome na lista, tem número escrito. O filho do engenho já nasce eleito, O neto da senzala, já nasce suspeito. Mas vem o juiz com toga e razão, Dizer que é preciso pesar o perdão. Tratar diferente pra ser mais igual, Subir a ladeira com freio moral. Se eu puser o véu da ignorância, Será que você me dá confiança? Se eu sentar na sua cadeira, Você me serve ou fecha a porteira? Se eu ganhar no sorteio da raça, Você me acolhe ou me manda pra praça? Ah, doutor... A balança é cega, mas pesa a cor. Ah, professor... Seu livro é neutro, mas quem escreveu foi o senhor. Igualdade sem chão é miragem no ar, Quem nasceu no porão não quer se ajoelhar. E se a história não volta pra consertar, Que o futuro se incline pra equilibrar.” |
Imagem da Frase:

Mais frases de Newton Jayme

Newton Jayme