Frase de Alan Duca

Frase adicionada por Duke em 13/10/2025


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Ecos do Além 

Há ruídos na carne — estalos de parede —,
rangem-me os ossos como tábuas ao luar,
e o coração, bolorento hospede,
exala o mofo de quem deixou de amar.

Nos cômodos da mente, o vento geme,
batem portas sem mão, sem morador,
é teu nome — defunto que não treme —
a repetir-se no pó do corredor.

O relógio pulsa em necrose e delírio,
cada tique é um suspiro apodrecido,
minha alma — um sótão de martírio —
onde o eco do teu “adeus” é repetido.

Teu abandono foi larva que se aninha
nas vigas do peito, carcoma sutil;
rasgou as cortinas da minha rainha
e deixou-me um vulto febril e hostil.

Foste o espírito preso ao tapume do abraço,
teu perfume — ectoplasma do engano —,
meu amor, ruína, cataplasma e cansaço,
fantasma que acasala com o desengano.

Agora habito em mim — velha morada —,
onde a saudade range em cada vão,
e o eco do amor, feito sombra amarrada,
repete o abandono... em lenta decomposição. (Alan Duca)
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Fazer todos os dias um bom dia, essa é a mais elevada das artes. ["To affect the quality of the day, that is the highest of arts" - Walden (1854), Cap. 2]

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