 | “ Preço Fixo Nas gôndolas jazem fêmures tingidos em verniz, a plástica cor fulgura, fosforescência vil, e o cadáver enamorado, roendo a gengiva gris, balbucia ao vento podre: “descansa nunca, febril!”. O shopping, cemitério de luz elétrica e engano, abre-se como útero pútrido de consumo eterno, onde a larva da moda, com sorriso profano, ceia do fígado humano no balcão moderno. Sobrevoa o corvo negro, crocitando o caos, mas o povo, com riso idiota, não lhe dá ouvido; o tilintar das moedas é mais alto, é mais atroz, e enterra o grito lúgubre do bicho perdido. Rastejam todos, ávidos, feito minhocas no Louvre, festejam vitrines como altares de ilusão, o lucro é missa negra que, em coro, os envolve, sugando da carne pobre a última pulsação. E a penumbra, aflita, ergue o dedo carcomido, aponta os convivas da ceia mais sombria: mastigam a própria sombra num banquete perdido, Um “thriller” macabro, sem fim, sem liturgia.” |