Frases de Criança (adicionadas pelos usuários)


Flavio Rabello
Tempo ao Tempo.
Vista cansada.
Otto Lara Resende.

Revendo meus guardados deparei-me com a crônica escrita em 23/02/1992, por Otto Lara Resende, abaixo transcrita, suprimindo a introdução do texto por questão de espaço.

"Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.
Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima ideia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.
Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.”

Otto Lara Resende.

Maria Luz
Quando era criança, sonhava ser professora, para ensinar as crianças a escrever e a ler... Sonhei isso muitas vezes, mas a vida prega-nos partidas, e embora eu acabasse por trabalhar com as crianças, não foi da maneira que um dia havia sonhado... Queria ser professora, experimentar a intensidade das letras, dos números, dos desenhos e cores... Sentir o sabor das escritas inocentes daqueles corações puros... Queria sentir que com eles coloraria o mundo ... Mas virei educadora infantil... Lindo, maternal, maravilhoso, mas diferente, agora, eu tomava-as nos meus braços e embalava-as para adormecerem, dava-lhes o biberão, a papinha à boca e brincava com eles, ensinando-os a dar os primeiros passos e a dizer uma ou outra primeira palavra... Amei-os como se fossem meus, e durante anos foram... A minha felicidade era enorme, quase não cabia dentro do meu peito... Amei o que fazia e fiz durante anos... Nunca estagnei, porque o sonho não tinha sido realizado, no fundo estava a cumpri-lo de uma outra forma, e estava a fazer o que a criança em mim sempre desejou, lidar com CRIANÇAS... Mas no fundo da minha alma sentia-me como que tinha traído a criança que outrora fora, e que tanto desejava ter sido professora, fazendo coisas diferentes...
E um dia, no silêncio de mim mesma, conversei com a criança que em mim existe e que eu fora... E nessa conversa tão intima, tão nossa vi que ela se sentia deveras ORGULHOSA da pessoa que eu era e do que havia feito e fazia, e acima de tudo espelhava FELICIDADE, por não a ter abandonado, mas sim deixado tomar parte em todas as coisas que eu realizei na minha vida profissional com as crianças... Quando eu cantava para elas, dançava e brincava com elas, era ela que o fazia, ... Nunca deixei que os olhos dela através dos meus perdessem o brilho do amor pelo que amava fazer... E isso foi o que mais a emocionou e a fez nunca me abandonar... A criança que em mim existiu, existia, existirá sempre...
Eternamente!

Nilton Mendonça
Saudade
Ninguém sabe! Ou cada ser sabe o valor de uma emoção pessoal.
Aquele dia do primeiro encontro.
O nascimento de um filho ou alegria de ver feliz um ente querido.
O dia do casamento, o batizado, e o dia mais longo de um velório e sepultamento.
A casa onde você nasceu e por causa das circunstancias teve que deixar para traz E um belo dia você está ali, de pé, em frente ou dentro dela estático minuciando cada detalhe que antes nunca notará. Não estava nem ai; mas, naquele dia tudo tinha um valor inexorável.
A volta a terra natal, o reencontro, e vem um pensamento `` como ela mudou´´. Já não tem mais aquele velho chafariz! E o coreto da pracinha da capela, hoje só lembranças e um nó represando um choro saudoso.
A lembrança da roça, a mãe preta que muitas vezes carregava a criança encaixada na grossa e roliça cintura. Até a brisa, o velho vento fresco tocando o já tão marcado rosto ainda é ou, continua sendo a única coisa que está igual. Até a velha relva, os pássaros, e toda natureza transformou-se.
Uma das únicas coisas de tantas que permanece é minha saudade, que insiste em me castigar. E tudo acaba, só o sentimento fica! Mas temos que prosseguir, continuar correndo, andando, ou arrastando. Temos que continuar! O tempo insiste em gritar vamos sempre adiante. E caso queria parar, deflagrar-se aí a morte em vida, pois a vida é movimento não há parada, apenas uma pausa mas o recomeço tem que ser e imediato deixando sempre para traz oque hoje não tem importância mas que no futuro trará muita saudade. Que a paz esteja sempre em nossas mentes, ou quem sabe em nosso coração.



1...78910111213...40