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O VELHO HOMEM MORREU E RETORNOU UM ESTRANHO Parti daqui com os olhos fechados , não por coragem, mas por cansaço. Cansado de mim, dos meus próprios passos, do eco repetido de uma vida que já não me servia. No caminho, as máscaras pesaram até não poder mais. E quando caíram sob elas, não restou mais ninguém. Nenhuma verdade, Nenhum rosto. Fui embora no silêncio dos gritos, aqueles que ninguém ouve, mas que dilaceram por dentro Carregava culpas antigas, empilhadas como pedras, até que já não cabiam mais em mim. A carne clamava por redenção, é verdade. Mas a alma , a alma só queria uma chance de nascer outra vez, sem algemas nem memórias. O velho homem morreu. Morreu sem flores, sem velório, sem lamento. Morreu no instante exato em que me encarei no espelho e não me reconheci. Ali, no reflexo turvo, percebi: eu já não estava mais ali. Memórias se queimaram no fogo do arrependimento, ardendo rápido, como papéis encharcados de passado. Palavras venenosas morreram sufocadas na garganta. Gestos repetidos, sorrisos ensaiados, tudo se desfez no vento que precede a mudança. Hoje, sou o retorno de um estranho. Nos meus olhos ainda mora a sombra do que fui , mas no peito, há uma chama pequena e teimosa, do que posso ser. Caminho sem garantias, mas com uma verdade crua e inteira. E isso basta por agora. Se me buscares no ontem, não me encontrarás. Pois o que ficou para trás Não responde mais por mim. ”
Rafael Silva