Frase de H. P. Lovecraft

Frase adicionada por Marius em 17/02/2021

H. P. Lovecraft
Astrophobos

No céu da meia-noite a se incendiar,
através da profunda imensidão,
vi certa vez, com sôfrega emoção,
o brilho de uma estrela singular,
que a cada novo ocaso retornava
e junto ao Carro do Ártico brilhava.

Ao seu fulgor belíssimo, dourado,
ondas de pura graça se mesclavam,
enquanto sonhos de êxtase baixavam
em mírrea névoa elísia misturados;
e aos acordes das liras, maviosos,
cantares lídios soavam, harmoniosos.

E — pensei — são cenários de deleite
onde moram os livres e os benditos,
e há nas horas tesouros infinitos,
que o feitiço do lótus mais enfeite;
e onde, líquido e doce como o mel,
flui o som do alaúde de Israfel.

Mundos de uma ignorada beatitude
ali — tal eu supunha — se acendiam,
onde a paz e a inocência se acolhiam,
junto ao trono supremo da Virtude,
e onde na luz bruniam homens justos
seus pensamentos límpidos e augustos.

E eu devaneava assim, quando à visão
sobreveio vermelha, atroz mudança,
em derrisão tornando-se a esperança,
e a beleza em desgosto e distorção,
as cordas em estranhas colisões,
e um caos imenso de espectrais visões.

Tornou-se rubra a estrela da loucura,
enquanto eu perscrutava o seu fulgor;
e o que foi alegria era amargor,
a Verdade expulsando à visão pura;
e espiavam mil demônios de olhos maus
por entre o brilho e a febre desse caos.

Agora sei que fábula encantada
essa áurea refulgência me contou,
e evito o que ontem vi e me enlevou
nessa longínqua treva constelada.
Mas eis que o horror, imóvel e inclemente,
ficará na minha alma eternamente.

H. P. Lovecraft

Imagem da Frase:



Astrophobos 

No céu da meia-noite a se incendiar, 
através da profunda imensidão, 
vi certa vez, com sôfrega emoção, 
o brilho de uma estrela singular, 
que a cada novo ocaso retornava 
e junto ao Carro do Ártico brilhava. 

Ao seu fulgor belíssimo, dourado, 
ondas de pura graça se mesclavam, 
enquanto sonhos de êxtase baixavam 
em mírrea névoa elísia misturados; 
e aos acordes das liras, maviosos, 
cantares lídios soavam, harmoniosos. 

E — pensei — são cenários de deleite
onde moram os livres e os benditos, 
e há nas horas tesouros infinitos,
que o feitiço do lótus mais enfeite; 
e onde, líquido e doce como o mel, 
flui o som do alaúde de Israfel.

Mundos de uma ignorada beatitude 
ali — tal eu supunha — se acendiam, 
onde a paz e a inocência se acolhiam, 
junto ao trono supremo da Virtude, 
e onde na luz bruniam homens justos 
seus pensamentos límpidos e augustos.

E eu devaneava assim, quando à visão 
sobreveio vermelha, atroz mudança, 
em derrisão tornando-se a esperança, 
e a beleza em desgosto e distorção, 
as cordas em estranhas colisões, 
e um caos imenso de espectrais visões.

Tornou-se rubra a estrela da loucura, 
enquanto eu perscrutava o seu fulgor; 
e o que foi alegria era amargor, 
a Verdade expulsando à visão pura; 
e espiavam mil demônios de olhos maus 
por entre o brilho e a febre desse caos. 

Agora sei que fábula encantada 
essa áurea refulgência me contou, 
e evito o que ontem vi e me enlevou 
nessa longínqua treva constelada. 
Mas eis que o horror, imóvel e inclemente, 
ficará na minha alma eternamente. (H. P. Lovecraft)
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