Frase de Maria Almeida
 | “ O tempo está parado lá fora. Indefinido e silencioso, sem sol e sem chuva, ausente de vento e de si, e soberbamente suspenso na sua plenitude existencial. Olho o exterior através das extensas vidraças da sala, embrulhada no sofá, um livro aberto sobre os joelhos fletidos e o aroma do cacau quente que sorvo aos poucos, embebida em paz e deliciada por me sentir bem e assim, espraiando, de quando em vez, as pupilas no vermelho fogo das árvores do meu jardim. Vejo o meu cão, placidamente deitado na erva, perto dos arbustos que rodeiam uma parte do poço protegido, e sorrio, lembrando-me de que estou viva e que nem sempre o silêncio soa a escuridão e nem sempre me faz descer a ravina até ao fundo, onde me sinto com frio. Às vezes é como uma nuvem carregada de chuva que mais cedo ou mais tarde fica leve. Outras vezes é o sol que abre a porta através da qual vejo nitidamente a afeição que não termina, mesmo quando a vida se revela complicada e tudo parece acontecer como um murmúrio debaixo de água.” |
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