Frase de Filipe Marinheiro
| “ Sou o que deveria ser e a mais não serei! Ser não serei, veria o que deveria mais ser o que serei mais ser sou, não tendo forças p’ra ser Sou o que a mais sou! Deverei? Transijo emendas ao contornar tua romã boca pressentindo o húmus dos melancólicos boulevards... adeus vestígios: a petulância! Esperarei? Transijo ninhadas de primogénitos...adeus vestígios: a petulância! Como poderei ter erguido o suicida punhal do Dom, oh, zarolho narcisismo que nele transbordas alhadas sorridentes, se a tristeza imensa oscula-me inamovível cesura, ontem (raios de sol), hoje (nevoeiro-antracite) e amanhã (dilúvio-arco-íris)? De gerânios-verdes-esbranquiçados a gerânios-verdes-metalizados, estico o funesto Dom girando-o! Teço, docilmente recreativo caminho-de-ferro de balaustrada a balaustrada (são enormes), e o epíteto Dom graceja, lastima, ressoa nas franjas das almofadas-esmeralda como agueiros d’ elasticidade onde perdura embalada frescura. E ter Dom? Ter Dom é flutuar no empoeirado parapeito-preto em cima duns sapos que por lá extasiam cúpulas vertiginosas e eu nunca saberei flutuar muito menos viver a ver sapos a foder!” |
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| “ Devorei pulsos em chamas. Amplamente o rosto envolto por coágulos de sangue luzidio a trespassarem as veias estanques como a enrolar as cores existentes por dentro. Certo é percorrerem todo esse ar que engole o corpo celeste mergulhado na textura do nosso corpo temporal. Fico com as mãos cheias de ossos trancados. Levanto a cauda de um espelho e alongo as vísceras astronómicas, com bastante força química, a dilatar numa circulação sanguínea até a leveza da garganta se alagar na sombra líquida das artérias contra o alto esquecimento das coisas profundas, contra os tendões severos a racharem a boca desvairada. Relembro quando adormecia sobre todas as coisas vivas ou mortas por fora. Submetia os lábios a girarem a voz louca ao lume pedestre e ardia pelo estremecimento terrível dos nervos cabeça adentro, donde múltiplas estrelas demoníacas a baterem-se em mim longamente param, a pouco e pouco, a potência que nunca me sorriu e vago ou inocente deixo de caber nos sítios superficiais à minha volta. Releio todas as cumplicidades translúcidas a moverem toda a pele num feixe de pérolas das salgadas mãos, aos braços a escorrerem aquele alimento metidos nas águas sentadas no túmulo dessas estrelas tubulares. A destreza deste poema extingue-se quando as unhas tocarem na carne abaixo, rompendo, com sinceridade, a desvastação simbólica da escrita furibunda ou silêncio furibundo a pesar com delicada melancolia. Ouço o rasgão do corpo a sangrar com os tecidos dos versos a palpitarem porque se nomeiam e se escrevem dentro da pulsação ininteligível. Por cima, devoro os pulsos em chamas.” |
Filipe Marinheiro